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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
No dia seguinte ao título conquistado pelo Sporting CP, tentámos aqui reflectir sobre este campeão, se de facto jogou bem ou mal, se foi algo vítima das circunstâncias e de imponderáveis ou se, na verdade, não foi um vencedor assim muito diferente de outros. Naturalmente, muito boa gente apenas leu o título, nem sequer quis admitir as várias e diferentes opiniões na análise, e optou por insultar os jornalistas ou insultar o Sporting. É o que temos.
No futebol ou na política, a reflexão é sempre importante, até para os vencedores. Mais ainda num campeonato com tantos campeonatos dentro, com tantas mini-crises, onde pela primeira vez os três grandes mudaram de treinador a meio caminho, o Sporting até mais do que uma vez, depois de passar de 11 vitórias em 11 jogos do campeonato com Amorim, para duas derrotas e um empate em quatro jogos com João Pereira, que foi sucedido por Rui Borges. No futebol e na política, nada é garantido.
Nada disto é, ao contrário do que se possa pensar, retirar mérito ao Sporting. Que o tem, e muito, neste primeiro bicampeonato em 71 anos. Olhemos para o FC Porto, que não se recompôs da crise que levou à saída de Vítor Bruno, em Janeiro. Ou para o Benfica, mais acidentado em termos de atitude do que uma etapa de média montanha desta edição do Giro. Mesmo dono, muito provavelmente, do plantel mais profundo de toda a I Liga. Nas duas últimas jornadas, sobressaiu quem, no final, pareceu querer mais, esse conceito altamente difuso, simplista e complexo ao mesmo tempo. O Sporting, mesmo nervoso, mesmo nos seus defeitos, correu aquele quilómetro extra, foi mais solidário quando teve de ser, resistiu mais e melhor do que os rivais. Resistir é uma palavra importante neste campeonato.
“Quando faltar a inspiração, que não falte a atitude”... atirou Rui Borges, em estilo confuciano, quando chegou ao Sporting já no anoitecer de 2024, para pegar numa equipa estilhaçada emocionalmente e fisicamente presa por arames. O Sporting continuou a ter as suas flutuações, até não esteve longe de perder este campeonato, faltou-lhe, em certos momentos, a imposição que se exige a um campeão, mas o transmontano terá o mérito, ao contrário dos adversários, de nunca ter deixado cair fatalmente esta equipa - e a sorte de ter um avançado como Viktor Gyökeres, claro, ainda mais decisivo do que há um ano, obrigado, por ventura, a ser mais decisivo do que há um ano.
Nas primeiras declarações como campeão, Rui Borges lembrou o óbvio, mas que merece ser lembrado: “Não fui um grande jogador, não estudei, sou apenas o Rui Borges de Mirandela”. Recordou, sem falsas modéstias nem excessiva confiança, o que disse quando chegou ao Sporting em Dezembro: que foi o trabalho que o levou a Alvalade. Desde baixo, sem quaisquer empurrões. Talvez só um treinador conhecedor dos seus limites, habituado às montanhas e vales, literais e metafóricas, do futebol do povo, das divisões que ninguém quer ver e às quais só liga quando há violência ou salários em atraso, tivesse a resistência para este final de I Liga, para todas as mudanças de guião a que assistimos ao longo dos meses. Se tudo isto chega para o futuro, é parafrasear Pedro Gonçalves no Marquês: “Vamos ver”.
Artigo da jornalista Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
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