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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Pedro Gonçalves (Pote) de 26 anos, chegou a Alvalade em Agosto de 2020, proveniente do Famalicão. Com a compra posterior de mais 40% do passe, que permite ao Sporting ficar com um total de 90 por cento dos direitos económicos, a contratação ascende a um total de 14,5 milhões.
Tem contrato com o Clube até Junho 2027 e o seu passe está avaliado em 30 milhões de euros.
Afectado por uma grave lesão que o impediu de jogar durante 153 dias nesta época, Pote participou apenas em 19 jogos, em todas as provas, 16 dos quais como titular, acumulando 1222 minutos de jogo, uma média de 64 minutos por jogo, com 6 golos marcados e ainda 6 assistências.
"Tudo nele é mentira, expressa por presença, gestos, intenções e estilo, razão pela qual não convém atender aos olhos enganadores, que anunciam o contrário do que estão a pensar; até parece muito discreto, inofensivo, frágil e preguiçoso mas, num dia normal, transforma-se em figura esmagadora, enquadrada por deslumbramento, agressividade, robustez e tremenda eficácia. Pote é um jogador superior, com a velocidade adequada às zonas que pisa e às necessidades de cada instante; a técnica maravilhosa para executar tudo aquilo que se propõe fazer; a visão de quem entende bem o futebol em toda a sua dimensão colectiva, e a habilidade para sair de apertos, recorrendo a truques nunca desprovidos de objectividade.
Com três títulos no bolso, em cinco épocas douradas de leão ao peito – às quais devemos acrescentar um ano incrível em Famalicão, onde foi uma espécie de Iniesta dos pobres – consolidou a dimensão total de figura central da melhor equipa portuguesa. Entrou sem sequer bater à porta e adquiriu o estatuto de ídolo absoluto do Sporting e vulto maior do futebol português.
Na estrela em que se tornou brilham as pontas de uma inteligência superior; do talento fora do comum, que acrescenta e multiplica qualidade acentuada à equipa; do instinto simplificador que lhe permite resolver as situações mais delicadas; da serena atitude de quem nunca se deixa afectar pela tensão e do espírito agitado com o qual evita o bocejo generalizado. É uma estrela que cumpre todos os requisitos emocionais que extravasam para os adeptos, mas também satisfaz a implacável ditadura da estatística: 237 jogos, 49 golos e 49 assistências. Há poucos como ele no futebol europeu: médio com instinto goleador e avançado com alma de centrocampista.
Pote tem agora vários desafios para vencer e obstáculos para superar: com a mais do que provável saída de Gyökeres, será dele o rosto verde e branco rumo ao tri; deve esperar ventos favoráveis para a consolidação de um lugar na Selecção Nacional e, por fim, forçar o mercado a reparar nele como merece, isto é, um dos melhores atacantes da Europa. Muito menos do que isso não vale a pena. Como disse um dia Manuel Alegre sobre assuntos mais importantes do que o futebol, “por vezes a grande aventura é ficar”. Assim ele tenha vontade de a viver".
Texto do jornalista Rui Dias, em Record
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