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Além de mexer com muitos poderosos interesses financeiros, o desporto, em geral, sempre foi uma arma política. Longe dos ideais que preconiza, foi usado em agendas nacionalistas em vários momentos da história e várias geografias.

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Os Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim, os primeiros televisionados, serviram para Adolf Hitler demonstrar a força do nazismo, ficando eternamente manchados pelo anti-semitismo. A União Soviética de José Estaline bem serviu-se da participação nas provas internacionais como arma da propaganda comunista, tanto para fora do país como para dentro, que continuou com os líderes que lhe sucederam. Foram os soviéticos que nos anos 70 e 80 desenvolveram o uso da creatina para o desenvolvimento da massa muscular e a dopagem sanguínea, com transfusões antes das provas. E nunca mais pararam.

O último grande escândalo surgiu depois dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2016, que  se disputaram na cidade russa de Sochi. Só foi descoberto depois de Grigory Rodchenkov, então responsável máximo pela agência anti-doping russa, ter denunciado às autoridades um elaborado plano de dopagem que o próprio implementou, substituindo milhares de amostras de atletas para ocultar o esquema.

Vladimir Putin e o seu KGB fabricaram provas para desacreditar Rodchenkov, retratando-o como o orquestrador de um grande plano para extorquir dinheiro dos atletas. Mas até estes esforços foram identificados pelos investigadores da Agência Mundial Antidopagem.

A penalização foi a mais dura jamais aplicada a um país: quatro anos de afastamento das competições internacionais. Justificada, sendo o doping uma prática reiterada do regime de Putin e no desporto russo. Mas não foi o que entendeu o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS, na sigla francesa), na Suíça, que na semana passada decidiu reduzir a pena apenas para dois anos, deixando o país de fora dos Jogos de Verão em Tóquio e dos de inverno em Pequim.

Os desportistas russos poderão continuar a competir. No equipamento não pode estar a bandeira russa, mas as cores nacionais são permitidas. Se vencerem, não sobe a bandeira nem há hino, mas todo o mundo saberá que foi um atleta russo que ganhou. O que torna a sanção quase simbólica.

É a segunda decisão incompreensível tomada pelo TAS, depois de em Agosto ter travado a proibição do Manchester City participar na Liga dos Campeões, imposta pela UEFA, por causa da violação evidente e grosseira do ‘fair play’ financeiro. O clube do Sheik Mansour safou-se com uma multa de 10 milhões por não colaborar com a investigação.

Nas duas decisões mais importantes em que foi chamado a pronunciar-se este ano, o TAS optou por encorajar a violação do ’fair play’ financeiro e aliviou a pena sobre uma operação de doping em larga escala, com ocultação de provas, fazendo crer que há uma justiça desportiva que favorece os ricos e influentes. Ora um TAS assim não serve ao desporto.

P.S.: A semana passada defendemos a necessidade do futebol tomar medidas em relação às lesões cerebrais provocadas por embates entre jogadores. O International Football Association Board (IFAB), que define as regras do jogo, anunciou que a partir de Janeiro as associações e federações podem permitir uma substituição extra sempre que existir uma concussão ou uma mera suspeita. Uma decisão que merece aplauso.

Artigo da autoria de André Veríssimo, Director do Negócios

publicado às 03:00

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1 comentário

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De Leão do Norte a 25.12.2020 às 19:33

Infelizmente não é novidade que os órgãos decisórios sofrem múltiplas influências e que em várias situações são permeáveis a elas.

Gostaria de destacar o último ponto, relativo à importância da actuação perante casos, ou mera suspeita, de concussão cerebral.
São casos que se podem revestir de gravidade clínica, com possível risco de vida, e onde não se deve facilitar minimamente.
Já existem vários desportos com protocolos rígidos perante estas situações, que implicam, não só a saída imediata do jogo por parte do atleta, como um seguimento clínico e tempos de retoma da actividade desportiva definidos.

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