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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
No total, entre SC Braga e Sporting CP, Rúben Amorim leva 16 jogos na Liga NOS: ainda não perdeu, empatou 3 vezes e venceu por 13 ocasiões. Mas convenceu muito raramente, apesar dos resultados notáveis Num vídeo produzido pelo SC Braga, aquando da chegada de Rúben Amorim, o então técnico dos minhotos referiu, em jeito de apresentação, que “a ideia é que se consiga entender o que o SC Braga vai fazer, mas não seja fácil de parar”.
A frase é deveras simples, mas levanta uma questão altamente relevante que está na base da construção de uma ideia de jogo com bola e que, acredito, divide os treinadores em dois grupos: ou se pretende o nosso futebol ofensivo o mais ordenado possível, rigoroso nos posicionamentos e capaz de espelhar com perfeição os automatismos que trabalhamos nos treinos ou se, por outro lado, pretendemos gerar constantes problemas diferentes ao adversário dentro da nossa organização de jogo, para desafiar os equilíbrios que nos vão procurar impor.
No fundo, ou padronizamos, ou, como referiu Vítor Pereira, procuramos que o jogo seja menos de régua e esquadro, menos dos treinadores, mas mais dos jogadores.
Não acreditando em fórmulas corretas ou incorretas, porque o futebol já se encarregou de nos mostrar que se ganha e alcança o sucesso de diversas formas, e percebendo que Rúben Amorim pretende com esta frase dizer que quer conferir organização à sua equipa e tarefas bem explícitas aos seus jogadores, julgo que existe um paradoxo nesta lógica: quanto melhor se conseguir entender o que neste caso o Sporting CP quer fazer, mais facilmente o conseguirão parar.
No clube de Alvalade, Rúben Amorim tem procurado replicar praticamente tudo o que estava a criar em Braga. Do sistema colectivo aos papéis individuais em cada posição, o que se tem visto é tudo aquilo em que Amorim acredita. Um jogo mais dele do que dos jogadores, conforme diz o próprio.
“O que quero fazer é dar-lhes uma identidade, uma organização e uma forma de estar em campo em que, sim, continuamos a depender deles, mas menos. Sermos consistentes e, depois, aqueles últimos 10% pertencem ao jogador”, explica o treinador no vídeo de apresentação do SC Braga já referido.
A verdade é que, por enquanto, na Liga NOS, o registo é quase perfeito: em 16 jogos (nove no SC Braga e sete no Sporting CP), ainda não perdeu, ganhou 13 e só empatou por três vezes. Pelo meio, conquistou uma Taça da Liga na qual bateu tanto leões como dragões. Os resultados são incríveis, mas pessoalmente creio que Rúben Amorim tem vencido mais do que convencido.
E, devo dizer, tive pena que o Sporting não tenha conseguido ganhar ontem em Moreira de Cónegos porque, assim, esta publicação pode parecer influenciada pelo último empate dos leões, mas é até precisamente o oposto: apesar dos grandes resultados que Amorim tem conseguido, o seu futebol parece-me não justificar tamanha superioridade.
Nem ontem, nem quando ganhou.
Quando assim é – quando os resultados e as exibições não se justificam entre si – cria-se um problema de sustentabilidade. Mais cedo ou mais tarde, quem joga bem e perde há de começar a ganhar e quem vence sem convencer vai ter problemas. Neste momento, o Sporting CP, já sem beneficiar tanto do efeito surpresa de que o SC Braga beneficiou, é uma equipa demasiado previsível, com pouco jogo interior, refém das amarras atribuídas aos seus médios e, sem Mathieu e com Eduardo Quaresma ainda longe do seu potencial, órfã de centrais com mais capacidade na fase de construção.
Se assim é, perguntam... como é que não perde e tem ganho tantos pontos aos rivais? “Tenho tido bons jogadores, sorte nos momentos certos e gente que acredita em mim”, respondeu o próprio treinador, antes da última partida.
De facto, as pessoas tendem a desvalorizar a componente da sorte e do azar, mas Amorim tem tido muito mais da primeira do que da segunda. Foram vários os jogos em que, ainda em Braga ou já nos leões, as partidas poderiam ter terminado com resultados diferentes.
Ainda assim, é impossível não o referir, há também vários méritos claros do técnico da moda. Tem as ideias claras, e isso será sempre uma vantagem, comunica muito bem, tanto para fora como para dentro, ou não conseguiria impor as suas ideias de forma tão rápida junto dos jogadores, e é alguém profundamente positivo, que transmite confiança – e esse é um aspecto basilar em qualquer equipa.
A possibilidade de formar um plantel à sua imagem, coisa que ainda não pôde fazer nem num clube nem no outro, com uma pré-época pelo meio, irá ajudar a entender se o que vimos até agora foi somente uma ‘fase introdutória’ da ideia de jogo de Rúben Amorim e se há evoluções no modelo dos leões.
É a proverbial prova dos nove que, em conjunto com a competência do clube no mercado de transferências para apetrechar ou não o plantel de mais qualidade, ditará o sucesso na próxima temporada dos verdes e brancos.
Texto de João Almeida Rosa, em Tribuna Expresso
Nota: Não conheço este João Almeida Rosa, não sei se escreve objectivamente e livre de influências partidárias e, fundamentalmente, os seus conhecimentos de futebol, dentro e fora das quatro linhas. É um escrito interessante, com um ponto de vista algo diferente do que se tem visto no que a Rúben Amorim diz respeito, como treinador.
Subscrevo algumas das suas considerações, mas hesito em aceitar que quem vence sem convencer está destinado a ter problemas. Hoje em dia, especialmente em Portugal, há pouco futebol convincente, por conseguinte, quando se chega ao apito final, o futebol que convence é precisamente o futebol que vence, indiferente se o percurso é mais ou menos atractivo.
Neste momento, na Liga NOS, temos apenas dois clubes a disputar o título, e um deles, muito provavelmente o FC Porto, vai, em breve, sagrar-se campeão. O seu futebol justifica os resultados?
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