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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Não é possível um sportinguista explicar a um benfiquista ou a um portista como é que um clube como o nosso se aguenta como um dos grandes, com tantos adeptos espalhados por Portugal, diáspora e PALOP, sem vencer campeonatos.
Se é verdade que o próprio Sporting tem alguma capacidade para se autossabotar, também tem uma resistência que os outros desconhecem. Que se entranhou de algum modo na sua identidade. O único sabor mais amargo deste campeonato é ter sido conquistado sem público no estádio. Tudo o resto é compensador. Ninguém em boa-fé nega que o Sporting, sem uma única derrota, mereceu este campeonato.
As circunstâncias e as necessidades ditaram algumas escolhas que fazem com que esta vitória tenha um sabor ainda melhor. O Sporting não venceu o campeonato comprando jogadores a preços estratosféricos que não faz ideia como irá pagar. Não sei se a estratégia é sustentável ou se foi sequer de uma escolha. Mas quando sabemos que o caminho da Europa é um crescente fosso financeiro entre clubes ricos e pobres, é interessante que a vitória vá para quem se prepara para um tempo que será de vacas magras.
Apesar de não se ter deixado sempre de fora das guerrilhas tóxicas, o actual Sporting tem um presidente discreto. Sabe bem ouvir mais o treinador e os jogadores, que são o centro do jogo, e menos o presidente, que não tem de ser o motor do entusiasmo clubístico. O Sporting venceu com um treinador não encartado – que nunca deixou de ser vítima de um tratamento persecutório por parte das estruturas do futebol – e isso é uma saborosa bofetada de luva branca no corporativismo medíocre de quem despreza o talento em nome do estatuto.
O clubismo é irracional. Eu não sou do Sporting porque acredito nisto ou naquilo, porque tenho este ou aquele valor. Sou porque sempre fui. Mas esse sentimento pouco racional de pertença tribal reforçou-se nestes anos difíceis para o Clube. Não é só o jejum que dá força a este momento especial – “a sede de uma espera só se estanca na torrente”, canta Sérgio Godinho. É, sobretudo depois de tanto tumulto e depressão, ter vencido o campeonato de forma “inteira e limpa”. Eu sei que isto é “só futebol”. Mas, perdoem-me os gentios, estou tão feliz.
Artigo da autoria de Daniel Oliveira, em Tribuna Expresso
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