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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O presidente Frederico Varandas está confrontado com a situação mais complexa do seu mandato. Rúben Amorim teve sucesso graças ao seu talento, mas também em virtude das condições que lhe foram proporcionadas. Ninguém se esquece do que era o Sporting antes dele e como conseguiu transformar o Clube. Mas, Amorim quebrou um compromisso e com ele também saíram processos de liderança, organização, planeamento e comunicação, para além de uma equipa técnica inteira.
Nós não conhecemos a realidade no interior do plantel, como é que de um ponto de vista pessoal, desportivo e emocional, os jogadores viveram a saída do seu líder. Todos eles são profissionais, mas sabe-se que estes acontecimentos são complicados e que podem alterar o foco e o compromisso individual e colectivo. Agora, sem conhecermos o que se passa lá “dentro”, sabemos de ciência certa que a saída teve um efeito demolidor na equipa. No fim de contas, podíamos ter previsto isso, Amorim era mais do que um treinador, foi o criador da estrutura, e a sua substituição nunca se faria por uma simples troca por troca.
Ao contrário de alguns sportinguistas, não coloco a principal responsabilidade do que se passa nos jogadores. Se os adeptos sofrem profundamente com as derrotas, os jogadores são prejudicados (e muito) na sua imagem e carreira profissional. Eles querem vencer, se não conseguem é porque lhes faltou engenho para isso, e não vontade. Em primeiro lugar, a responsabilidade tem de estar em quem dirige o Clube, pois deve prevenir as situações futuras, a seguir no técnico e só depois é que responsabilizo os jogadores. Neste momento, no Sporting, coloco a questão nestes termos.
Apesar de não ter gostado do jogo realizado em Moreira de Cónegos, e de determinados erros individuais inconcebíveis, considero que a equipa melhorou significativamente em relação à partida com o Santa Clara. O Sporting perdeu apenas por culpa sua, é um facto, mas também porque lhe faltou a “sorte do jogo”. Pelas próprias circunstâncias temporais, penso que João Pereira ainda tem espaço para dirigir a equipa com o Brugge e o Boavista, tomando-se depois uma decisão de acordo com a avaliação que se fizer. A contratar um novo treinador terá de ser alguém com um estatuto que mobilize os jogadores para as provas que estão em disputa e nas quais o Sporting está na luta pela vitória. A era Amorim terminou, mas a época não está perdida.
João Pereira não está habilitado a ser o treinador principal na I Liga na época 2024-25. Terminou o curso de nível III, aguarda o certificado, no entanto, ainda lhe falta a última graduação, o UEFA Pro, que lhe permitirá orientar as equipas de I Liga. Alegando isso, a Associação de Treinadores vai apresentar uma participação contra o Sporting e o novo técnico por este não ter o devido curso. O regimento da I Liga estabelece que cada clube deve inscrever, pelo menos, um treinador principal que seja portador do UEFA Pro (nível IV) e um treinador adjunto com o UEFA A (nível III).
Enquanto João Pereira não receber o certificado UEFA Pro, Tiago Teixeira, detentor do quarto nível, aparecerá nas fichas de jogo como o treinador principal, tal como aconteceu na fase inicial de Ruben Amorim no Sporting. Nessa altura, Emanuel Ferro era o treinador principal, mesmo não o sendo, e aparecia nas conferências de imprensa. João Pereira não poderá dar instruções aos seus jogadores durante os jogos, sob pena de existirem infrações disciplinares.
O curso UEFA Pro tem a duração de 376 horas. Existem critérios de selecção que podem favorecer alguns candidatos, por exemplo o facto de já trabalhar num clube da 1ª divisão. Depois de estar inscrito, João Pereira poderá exercer na plenitude as suas funções de treinador do Sporting. No futebol português, é consensual que as normas da Federação Portuguesa de Futebol em vigor não correspondem às necessidades dos candidatos, o que implica prejuízo para eles e para os clubes. Chega a demorar oito anos o tempo necessário para alguém cumprir os cursos previstos, desde o primeiro ao quarto nível.
Uma equipa de futebol é feita de um conjunto de talentos e de personalidades que se completam na sua infinita diversidade. É mais do que a soma das partes, é uma orquestra em que cada violino, flauta, bombo, trompete, com os restantes instrumentos, tocam todos em harmonia. Cada jogador "toca" um instrumento específico. O Nuno Santos simboliza muito do que o Sporting de Rúben Amorim tem de melhor. Nunca dar nada por perdido, sempre com paixão, irreverência e talento.
No final do jogo com o Sturm Graz, Nuno Santos falou com a frontalidade do costume: "Titular eu quero ser sempre. Estou a chegar aos 200 jogos no Sporting e mais de metade fui titular. Sou um jogador ambicioso, quero jogar sempre e já passei por muito na vida. Ganhámos 2-0 num campo difícil e já estamos a pensar em sábado."
O mister Rúben Amorim já estabeleceu o plano, o Nuno Santos vai seguir em frente, fazer a recuperação, o que tiver de ser, que ele e a equipa estarão à espera, até porque precisam muito dele. E nós, adeptos, agora que nos habituámos ao Nuno, no campo ou no banco, ficamos também à espera dele, alguém já passou por muito na vida, e a quem só faltam 4 jogos para chegar aos 200 de leão ao peito.
Segundo está a ser noticiado em alguma imprensa, o Ministério Público pede a suspensão do Benfica das competições desportivas na sequência do caso dos emails, de acordo com o despacho da acusação. A mesma suspensão das competições desportivas é pedida para o Vitória de Setúbal, que, apesar de à data dos factos ainda disputar a I Liga, encontra-se actualmente na 2.ª Divisão Distrital da Associação de Futebol de Setúbal. Trata-se para o Ministério Público de uma pena acessória justificada pelo grau de ilicitude dos factos, o seu modo de execução e o grau de violação dos deveres impostos.
A SAD do Benfica foi acusada pelo Ministério Público de crimes como corrupção activa, oferta indevida de vantagem e fraude fiscal qualificada, no megaprocesso conhecido como caso dos emails. Neste despacho, Luís Filipe Vieira é acusado de vários crimes, por ter alegadamente sido o mentor de um esquema que teria como objectivo a subversão da verdade desportiva pelo controlo de outros clubes que facilitariam a equipa benfiquista nos jogos de confronto directo. O referido esquema terá decorrido durante várias épocas desportivas e visa de igual modo o Vitória de Setúbal FC, clube que terá sido beneficiado financeiramente pelo Benfica.
Recorde-se que em Setembro de 2018, com base num despacho de acusação da 9.ª Secção do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, o Ministério Público pretendeu que o Benfica ficasse impedido de participar em competições desportivas durante um período de seis meses a três anos. Em causa estavam crimes de corrupção activa e passiva, recebimento indevido de vantagem, favorecimento pessoal, violação de segredo, peculato, acesso indevido, violação do dever de sigilo e 28 crimes de falsidade informática.
Neste tipo de crimes, as penas acessórias previstas são:
José Veiga Trigo, falecido recentemente, foi um árbitro internacional incómodo pela sua frontalidade. No seu currículo constam 153 jogos na I Divisão, onde chegou na época de 1978-79. Em 1994 esteve suspenso devido às criticas ao Conselho de Arbitragem. Em 2016, envolveu-se num desentendimento com o Sporting a propósito de determinadas ameaças sobre os árbitros denunciadas pelo Clube.
Destacava-se pela sua presença física por ser invulgarmente alto para aquele tempo. Dizia-se que “com o Veiga Trigo ninguém faz farinha”. Jaime Pacheco contou que ele não se intimidava nada com os insultos dos jogadores e que lhes respondia na mesma moeda. Tinha um sentido de humor muito espontâneo, como revelou no episódio do leão na jaula oferecido ao Sporting por Victor Hugo Cardinali antes de um dérbi com o Benfica. O leão estava na pista de tartan, e no início do jogo um dos fiscais-de-linha deu dois passos em frente para dentro do campo queixando-se que não queria o leão ali. “Nem dentro da jaula?”, perguntou logo o árbitro. Era capaz de ser muito sarcástico como foi com Pinto da Costa quando este se queixou no final de um jogo com o Braga que deveria haver mais minutos de descontos e afirmou que o melhor era Trigo deitar fora o relógio. Vendo que o “queixoso” tinha um Omega bastante valioso, respondeu-lhe de imediato “se me der o seu relógio, deito o meu fora”. E Pinto da Costa saiu porta fora.
Ningém é perfeito, e Veiga Trigo que conheci em Beja, não era de certeza absoluta, e como árbitro terá errado em alguns jogos. Era convictamente sportinguista, ao contrário do irmão benfiquista, e não me recordo de um único desafio em que ele tenha beneficiado o clube do coração. Havendo tantas histórias na arbitragem portuguesa, nomeadamente nas décadas de 1980 e 1990, não conheço alguma que ponha em causa o árbitro alentejano.
A bola veloz, feita fera, feita relâmpago, feita cometa, disparada como uma seta na direcção da baliza!
(Sporting 2 - Casa Pia 0 2024-25)
Nobreza na atitude. Companheirismo no gesto. Francisco Trincão entrega a Franco Israel o prémio de “Homem do Jogo”.
E eu a lembrar-me da canção de Sérgio Godinho: “A vida é feita de pequenos nadas”!
Desde 2002-03, a FIFA permite que as federações criem dois períodos de transferências distintos, no Verão e no Inverno. O primeiro período de transferências deve começar após o término de uma época e antes do início da outra e a segunda janela normalmente ocorre no meio da temporada. No primeiro caso, há um limite máximo de 12 semanas de duração e no segundo caso, o limite máximo é de 4 semanas, sendo esta uma janela intermediária.
É permitido o registo de guarda-redes fora dos prazos previstos, desde que a necessidade resulte de lesão grave devidamente comprovada pelo serviço de medicina desportiva. Em Portugal, é pelo IPDJ ou por um médico especialista em medicina desportiva inscrito no colégio da especialidade da Ordem dos Médicos.
As federações de cada país europeu possuem a liberdade de determinar as suas próprias datas. O período de contratações deve valer tanto para as internacionais como para as nacionais, não podendo haver nenhuma diferença entre elas. A FIFA ditou, ainda, normas para o cumprimento dos contratos, que, em via de regra, não podem ser terminados antes do prazo, salvo por comum acordo entre as partes ou na existência de justa causa.
Habitualmente o mercado de Inverno é utilizado para os habituais ajustes nos plantéis, com base naquilo que foram os primeiros meses da temporada. O tema motiva queixas de muitos treinadores, se bem que alguns aproveitem para se livrar de atletas com os quais não contam, contratando outros nos chamados ajustes, ao mesmo tempo que os jogadores menos utilizados procurem um clube que lhes seja mais favorável.
As condições de negociação e contratuais são idênticas nos dois períodos, incluindo a chamada cláusula de rescisão que se mantém em vigor nos dois casos. A maior diferença consiste na possibilidade no período de Inverno dos jogadores que estão no último ano de contrato possam comprometer-se com outro clube, no entanto cumprindo o compromisso contratual que permanece em vigor até ao último dia estabelecido.
P.S.: As regras da FIFA que governam a transferência de jogadores nas duas janelas do mercado são muito complexas, admitindo ainda que possam existir condições acordadas entre as partes, clube e jogador, que não são especificadas nas regras e, por norma, não reveladades publicamente.
A exemplo, é de admitir que há um acordo entre o Sporting CP e Gyökeres, contratual ou verbal, em que o jogador se comprometeu em não sair a meio da época. Várias reportagens jornalísticas já deram a entender esse exacto cenário, embora de forma contraditória e sem comprovação, na ausência de palavra oficial.
No dia 4 de Setembro, enquanto em Baku, ao serviço da selecção sueca, o jogador fez esta afirmação: “O Sporting CP queria que a maioria dos titulares ficasse, foram firmes a segurarem-nos. Foi assim que aconteceu, mas gosto muito do Sporting, por isso para mim não foi problema ficar. Claro, quero jogar ao mais alto nível. Provavelmente, a cláusula é um pouco alta demais porque não deu em nada. É muito dinheiro, veremos o que sucede na próxima janela de mercado".
Será essa "próxima janela" no mês de Janeiro?... Ficamos na dúvida, pela ambiguidade da afirmação.
Entrar em campo com o pé direito, benzer-se antes de um jogo começar, beijar a aliança, levar os dedos ao relvado - todos os que acompanham o futebol aprenderam a encarar estes gestos como naturais. Sendo um desporto com um elevado grau de imprevisibilidade e incerteza, onde a sorte ou o azar podem ser determinantes, o futebol tornou-se fértil em superstições. Para muitos jogadores são essenciais para manter o foco e a concentração.
Com a camisola 7 do Sporting chega a parecer que se passa algo de estranho, como se houvesse a necessidade de exorcizar a maldição desse número. A verdade é que desde que os jogadores passaram a ter um número fixo, apenas o primeiro, Sá Pinto (1995-96), teve sucesso. Mas, em 2000 teve uma grave lesão e mudou para o 10. Na verdade, não houve um 7 que tenha sido feliz de leão ao peito, fosse pelas lesões (Delfim, Niculae, Ismailov e Jeffrén) ou então pelo rendimento (Bojinov, Shikabala, Campbell, Rúben Ribeiro e Rafael Camacho). Salvou-se apenas Tabata, de certa maneira.
Nestas alturas vem à memória a expressão que Cervantes celebrizou no D. Quixote: “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay...”
E, já agora, a propósito desta conversa, vocês já repararam que o Sporting joga em Arouca numa sexta-feira dia 13?
Os sportinguistas precisam de recorrer à memória para nomear um jogador que tenha sido imprescindível como é Gyökeres. Contratado em 2023 ao Coventry City por 20 milhões de euros mais quatro milhões de acordo com determinadas metas, assinou até 2028. Com uma capacidade de explosão singular, poder físico, passada larga e muitos golos marcados tinha-se destacado na Championship, mas não o suficiente para despertar a cobiça de algum clube da Premier League. O “scouting” do Sporting CP percebeu o seu potencial desportivo, mas houve quem criticasse a elevada quantia por um jogador de 25 anos que estava há quatro anos na 2ª divisão inglesa.
Em Alvalade, Gyökeres tornou-se no jogador que é actualmente, e para isso contribuíram vários factores. Em primeiro lugar, a sua disponibilidade para trabalhar, a abertura (e a vontade) para se integrar num novo modelo táctico e a inteligência para brilhar num tipo de futebol diferente ao que estava habituado. Depois, associado à qualidade do treino, a dimensão técnica e táctica do plantel que permitiu optimizar ao máximo as características do novo avançado e traduzi-las em muitos golos e assistências para os companheiros de equipa. Até agora, de leão ao peito, o jogador sueco alcançou a marca invulgar de 50 golos em 55 jogos oficiais!
Rúben Amorim deu a habitual conferência de imprensa na véspera dos jogos para a Liga. Foi claro e frontal, como de costume, mas reservado no que considerou conveniente. Ei-lo em discurso directo:
«Temos de mostrar a mesma identidade, é sempre difícil jogar na Madeira, é uma equipa que subiu e que está habituada a ganhar e isso sente-se na equipa. Temos de estar no nosso melhor nível para vencermos o jogo, seguirmos em frente e continuarmos no nosso lugar.
Precisamos de mais um jogador para o ataque e vou ficar por aí. Estamos à procura de mais um jogador para o ataque para juntar ao que nós temos. Em relação ao Marcus, tem a ver com momentos de forma e da exigência que acho que devo ter com ele. Eu acredito tanto no Marcus que ele tem de fazer mais para jogar na equipa. O Trincão também não está a deixar espaço. O Marcus tem de voltar ao nível que já mostrou. O nível dele é de seleção inglesa, mas faltam-lhe passos, quer mental quer fisicamente.
Contamos com os jogadores que temos cá. Para a frente de ataque temos vários jogadores, o Viktor [Gyokeres] está a melhorar, o Rodrigo [Ribeiro] esteve tocado durante esta semana e não vai ser convocado, é uma oportunidade para o Gabriel [Silva], o Gabriel vai ser convocado. Temos muitos jogadores que podem fazer a posição. Contamos apenas com os jogadores que temos cá. Eu sei que os sportinguistas querem saber tudo, mas nós não temos informações para dar. Temos estes jogadores e estamos preparados para o desafio.»
O jogo com o Nacional realiza-se no sábado às 18h00.
Antes do jogo com o Rio Ave, Francisco Trincão foi homenageado pelos 100 jogos de Leão ao peito. Chegou a Alvalade, por empréstimo do Barcelona, no Verão de 2022 e em Abril de 2023, de acordo com a cláusula de compra obrigatória estabelecida no contrato de empréstimo, foi incorporado em definitivo ao Sporting. Nos 100 jogos, apontou um total de 23 golos e fez 13 assistências. O valor de mercado actual é 20 milhões de euros.
No final da época anterior, desejando comemorar o seu centésimo jogo com a camisola sportinguista, Francisco Trincão publicou nas redes sociais: "Um grupo único com um apoio incondicional desde o primeiro até ao último jogo. É um orgulho fazer parte deste grupo e de ter vivido o que vivemos este ano. Resta descansar e pensar que o futuro é risonho. Obrigado a todos. SL."
Detesto perder mas a vida ensinou-me a saber perder na perspectiva do competidor que não perde por acaso, embora por vezes com algum azar, que não foi o caso, e que tal como o boxeur que levou um soco e caiu, erguendo-se do chão para voltar ao combate não se auto derrotando, também a nossa equipa voltará para competir afastando erros e pontos fracos e acumulando pontos fortes.
Rúben Amorim esteve no "olho do furacão" mas a suas palavras de defesa dos jogadores marcaram o princípio da reviravolta que será empreendida e concretizada.
Com 67 anos de idade já passei por tudo como Sportinguista, do melhor e do pior, mas a dedicação, devoção e esforço para seguir em frente permanecem e permanecerão intactos até morrer.
Viva o Sporting!
SPORTING SEMPRE!
Comentário do leitor João Amorim na página no Facebook do Camarote Leonino.
O nosso amigo Leão do Norte ontem foi sujeito a uma intervenção cirúrgica. Uma situação imprevista, como acontece com frequência, mas agora o seu estado de saúde é estável e está recuperando normalmente. Todo o Camarote Leonino, os seus redactores e leitores, envia-lhe um abraço fraterno e sportinguista desejando que volte em breve à nossa tertúlia com a sua participação tão conhecedora e sempre assertiva.
Votos de rápidas melhoras, Leão do Norte!
Estou confiante com o Sporting em versão 2024-25. Mantendo o núcleo “duro” da equipa, com uma ou até duas contratações, acredito que vamos lutar pelo sucesso em todas as competições nacionais e sonhar com uma boa figura na Champions. Rúben Amorim referiu que, apesar de uma certa renovação, “foi contínuo o nosso crescimento, criámos alguns laços e isso era importante porque saíram peças importantes da liderança do grupo”. E sublinhou que há uma liderança nova, um ambiente muito saudável e muito talento na juventude.
A equipa procura ser versátil, mais imprevisível, para poder surpreender o adversário. A defender com uma linha de cinco ou de quatro, a jogar mais directo a pedir profundidade ou curto a ligar sectores conforme as circunstâncias, revela já uma boa coordenação de movimentos a defender ou a criar oportunidades de golo. Não sei se vamos conquistar a Supertaça, mas parece-me que a equipa está a ser muito bem trabalhada, organizada, com alterações oportunas ao tipo de jogo da época passada.
Estamos mais fortes. Na baliza vamos ter luta pela titularidade entre Israel e Kovacevic, Debast tem muita qualidade (e ainda vai ter mais), no meio campo temos quatro jogadores para dois lugares e só falta um avançado para acompanhar Gyokeres. Gostei muito de Debast no centro da defesa, não obstante algumas situações de apuro que criou. É um vértice de um triângulo que tem Hjulmand e Morita nos outros dois vértices e que dá segurança e consistência no processo defensivo e na primeira fase da construção. Bragança e Mateus Fernandes não vão baixar os braços, Geny à esquerda não é o mesmo jogador, Pote e Trincão arrancam a época em forma, Gyokeres continua a ser Gyokeres. Os jovens são muito promissores.
A revista Stadium, cujo primeiro número surgiu em 1932 e que se publicou até 1951, obteve um grande sucesso junto dos seus leitores pelas reportagens escritas sobre futebol, ciclismo, atletismo, hóquei em patins e outras modalidades desportivas. No início teve como subtítulo “revista de sport e de teatro”, mas durante a década de 1940 passou a apresentar-se como a “revista gráfica de desportos de maior tiragem e expansão”.
O ciclismo tinha lugar “reservado” na revista, nomeadamente as corridas disputadas no Verão, o que contribuiu bastante para a divulgação da modalidade. A Volta a Portugal e outras provas mereceram minuciosas reportagens escritas e fotográficas. O mesmo se passou com os ciclistas. João Lourenço foi capa da Stadium (nº 35, 4 de Agosto de 1943), com uma notícia nas páginas interiores sobre a sua participação e a de Américo Raposo, Eduardo Lopes e José Martins em provas em Espanha.
Nascido no Algarve, João Lourenço foi para Marrocos com a família quando tinha 13 anos de idade e foi lá que começou a praticar ciclismo. Ingressou no Sporting em 1939, com 22 anos, onde conquistou extraordinário destaque. Como profissional, sempre na equipa do Sporting, de 1939 a 1950, obteve 48 vitórias, entre etapas da Volta a Portugal e nos mais consagrados circuitos da época. Foi Campeão Regional de Fundo e Campeão Nacional de Velocidade em Pista, logrando ainda vencer provas em Espanha, Marrocos e no Brasil.
Em Julho de 1983 o jornal Sporting (nº 1858) exclamava com entusiasmo que "a bola já salta"! Pudera, com Manuel Fernandes e Rui Jordão na linha avançada, Oliveira e Kostov como médios e na defesa jogadores como Carlos Xavier e Venâncio tínhamos razões para confiar no sucesso da equipa.
O defeso tinha sido quente porque o Sporting foi às Antas contratar Gabriel, um jogador formado na escola azul e branca, e ainda Romeu. Para a baliza veio o húngaro Bela Katzirz que teria uma noite para esquecer em Glasgow. Como é habitual, havia vários jogadores oriundos da Formação no plantel: Mourato, Zezinho, Venâncio, Mário Jorge e Futre, entre outros. O técnico era o checo Josef Venglos.
A época de 1983-84 não seria feliz para os sportinguistas. No entanto, o futebol possui a condição excepcional de permitir sempre a renovação da esperança. Agora, tanto tempo decorrido, com a vontade férrea de repetir a conquista do título de campeão nacional, ainda com acertos por fazer na composição do plantel, todos sonhamos com uma equipa que nos galvanize como aconteceu na época anterior. Todos ao Marquês, outra vez!
Agora, que "a bola já salta", observamos quem é quem nos jogos da pré-época, se os jovens têm aquela mentalidade que se exige. Um novo Nuno Mendes? Ou Mateus Nunes? Esperanças, certezas, dúvidas, suposições. Gyökeres vai ou não vai, Ioannidis vem ou não vem, Trincão deixa as "duras" para o Nuno Santos, Rúben Amorim adapta Quenda a ala, Hjulmand, o novo capitão, já está quase a chegar, Travassos estreia-se a marcar, Mateus Fernandes é mesmo craque, Edwards acorda de vez, Kovačević fecha a baliza… E, sem o "captain", como é que será a defesa?
Venha a bola que o defeso já vai longo!
O golo que Diogo Travassos marcou a abrir a vitória (3-0) perante o Torreense fez com que os sportinguistas reparassem nele com mais atenção. Com 20 anos, é um defesa direito que se evidenciou nos escalões de formação, mas que uma grave lesão no joelho direito obrigou a uma longa paragem. Lesionou-se em Março de 2023, regressou aos treinos, teve uma recaída em Janeiro de 2024, que implicou segunda intervenção cirúrgica, voltando a jogar oficialmente em Abril de 2024.
Diogo Travassos começou como ponta de lança, mas descaiu para a ala direita, primeiro como extremo e mais tarde como lateral, aproveitando as suas características ofensivas. Trata-se de um jogador rápido, tecnicamente evoluído, com boa qualidade de passe e de remate e eficaz nos cruzamentos. Está no “radar” de Rúben Amorim há bastante tempo, no entanto a lesão não permitiu que tivesse alcançado maior protagonismo. É internacional português sub 18, sub 19 e sub 20.
Manuel Fernandes foi contratado no Verão de 1975 para substituir Hector Yazalde e logo na primeira época marcou trinta e dois golos. Faz parte de uma restrita plêiade de grandes capitães de equipa do Sporting, como foram, antes dele, Francisco Stromp, João Bentes, Torres Pereira, Serra e Moura, Jorge Vieira, Rui Araújo, Álvaro Cardoso, João Azevedo, Manuel Passos, José Travassos, Fernando Mendes, José Carlos e Vítor Damas.
Manuel Fernandes parecia que jogava a um ritmo superior ao que os seus pulmões e músculos permitiam e transmitia-nos aquilo que é intrínseco ao futebol: a ilusão. O seu futebol feito de técnica, versatilidade, intuição e oportunismo permitia-nos a ilusão de que, com ele em campo, a vitória seria possível, de que havia alguém que determinava o jogo, que não receava ter a bola e procurar o golo redentor.
No Estádio, suspendíamos a respiração quando, com o seu olhar de coragem e de orgulho, galgava metros e metros no relvado e se esgueirava dentro da grande área por entre os adversários. Ou, quando, de súbito, a bola cruzada morria-lhe no peito e ele a parava num movimento por nós já bem conhecido, e num improviso disparava a esfera feita fera. No campo escrevia poesia.
Perante os adeptos, num jogo de futebol, Manuel Fernandes exprimia vigorosamente o sentimento leonino mais forte. Ficou inesquecível quando no final do jogo com a União de Leiria, num gesto insólito de loucura e de paixão, correu sozinho de braços abertos direito à multidão que invadira o relvado, desaparecendo no meio do entusiasmo sem limites da festa da conquista do título de campeão nacional em 1979-80.
Manuel Fernandes é o segundo melhor goleador de leão ao peito (260), apenas Fernando Peyroteo marcou mais do que ele, e é o jogador com mais jogos na 1ª divisão portuguesa (486). No dérbi entre o Sporting e o Benfica disputado em 21 de Maio de 2023 subiu ao relvado para dar o pontapé inicial através de uma guarda de honra formada por antigos capitães do Clube. Estiveram no campo ou num camarote, Hilário, Carlos Xavier, Oceano, Pedro Barbosa, Iordanov, Nani, Daniel Carriço, António Oliveira, Francisco Barão, Freire, Litos e Nogueira, entre outros, que lhe ofereceram uma camisola sportinguista com o seu nome e o número 9 que sempre envergou.
Manuel Fernandes faleceu esta quinta-feira, aos 73 anos. O antigo avançado do Sporting CP e da selecção nacional estava internado há várias semanas a lutar contra uma doença muito grave. O Camarote Leonino apresenta sentidas condolências a toda a sua família.
Que o "Eterno Capitão" descanse finalmente em paz!
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ADENDA
O velório de Manuel Fernandes, glória do Desporto nacional, em particular do Sporting, terá palco no Estádio José Alvalade, este sábado: depois de uma primeira hora reservada apenas para a família, a partir das 9h30, o recinto vai abrir as portas ao público (10h30), para quem queira prestar uma última homenagem ao eterno capitão, falecido na quinta-feira, aos 73 anos.
No domingo, decorrerá a cremação, numa cerimónia apenas para os seus mais próximos.
Paulo Gama, mais conhecido por Paulinho, não marca golos nem faz defesas de levantar o Estádio, mas não há sportinguista que não saiba bem quem é ele. Mais ainda, sabem quem é, conhecem a sua história, e todos gostam dele e admiram o seu percurso de vida. Agora faz parte da mobília da casa, da essência do plantel. É vê-lo antes e durante os jogos a dar palmadinhas de incentivo aos jogadores. Está sempre por perto, seja para cumprir com as suas funções de roupeiro, entregar uma garrafa de água ou fazer o tal incentivo.
A história de vida de Paulinho é exemplar. Nasceu com algumas limitações psicomotoras e foi entregue aos cuidados de uma instituição de cariz social. Foi lá que detectaram o profundo interesse do jovem pelo Sporting CP e resolveram contactar o Clube no sentido de saber até que ponto este poderia colaborar na sua formação. Em 1985, com 16 anos de idade, tornou-se o roupeiro da equipa de futebol dos juvenis, dedicando-se às suas funções com rigor e grande profissionalismo. Por esta razão, foi promovido ao lugar de técnico de equipamentos da equipa de futebol profissional.
A ligação ao Sporting permitiu uma extraordinária evolução, muito positiva do seu estado de saúde, integrando-se absolutamente na vida do Clube e na sociedade. Os progressos psicomotores de Paulinho são evidentes. Inicialmente revelava enormes dificuldades em andar ou em falar, com o tempo passou a participar nas conversas, a dar toques sem deixar a bola cair e a revelar até uma certa agilidade mental. Tornou-se extrovertido, brincalhão, percebendo tudo o que se passa à sua volta. São inúmeras as histórias de camaradagem com jogadores e treinadores, envolvendo sempre invulgar amizade e empatia entre todos.
Paulinho recebeu o Prémio Stromp na categoria Especial em 2007 e foi alvo de uma justa homenagem por parte da UEFA, quando recebeu um dos galardões "Sete Magníficos" em 24 Agosto de 2000. Esta é uma história bonita do futebol e que muito dignifica o Sporting enquanto instituição desportiva, social e cultural. No futebol ainda há histórias assim!
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