Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O antigo avançado maliano Salif Keita, o primeiro futebolista a receber a Bola de Ouro africana (1970), falecido há um mês em 2 de Setembro, foi um craque da cabeça aos pés e representou o Sporting entre 1976 e 1979. A “Pantera de Bamako”, como era conhecido, completou o tridente ofensivo leonino com Manuel Fernandes e Jordão (ou Manoel) e, pelo seu forte carácter e grande profissionalismo, chegou a ser o capitão de equipa na ausência de Laranjeira. Pela classe e perfume do futebol, é um dos melhores estrangeiros que alinharam de leão ao peito.
Alto, elegante e muito rápido, em princípio actuava descaído para os flancos, fazendo uso da sua velocidade e excelente técnica, para provocar desequilíbrios nas defesas contrárias, com as suas poderosas arrancadas em direcção à baliza. Não sendo propriamente um ponta-de-lança também era capaz de jogar na grande área e fez muitos golos ao longo da sua brilhante carreira. Nos leões, a “pérola negra do Mali” participou em 78 jogos oficiais e marcou 33 golos. Esteve na conquista da Taça de Portugal em 1977-78, numa finalíssima disputada com o Porto.
Na fotografia, Keita, acompanhado pelo presidente João Rocha, exibe ao público o troféu da Taça de Portugal conquistado em 1977-78.
Ontem, num interessantíssimo texto, o Julius Coelho reflectiu sobre a hierarquia natural que se verifica num plantel de um clube de futebol, e no Sporting em particular. De facto, numa equipa tem de haver um objectivo único, o sucesso colectivo, que se deve equilibrar com a procura do sucesso individual. Parece-me que se houver equilíbrio nas dimensões colectiva e individual há muito maior disponibilidade para cada jogador comportar-se com espírito de equipa. Neste contexto, os aspectos psicológicos, a inteligência emocional, são determinantes.
Não basta ser muito competente de um ponto de vista técnico ou táctico, um jogador tem de ter alta capacidade para se automotivar sistematicamente, de treinar e jogar num nível muito elevado, ao mesmo tempo que mantém um salutar espírito de grupo, admitindo as aspirações dos restantes companheiros e saber conviver bem com elas. Isto para além do controlo da ansiedade e da irritabilidade e a compreensão dos problemas inerentes a uma equipa com grupos etários muito diferentes e de diversas nacionalidades ou culturas.
Quando vemos o Sporting jogar focamo-nos na performance de cada um dos jogadores e da equipa no seu conjunto. É o resultado do trabalho do treinador na superação dos seus atletas, e em que medida cada um é capaz de agir de acordo com os seus pontos fortes e fracos, contribuindo para derrotar o adversário. Na prática, isto tem nomes, desde Rúben Amorim, a Coates, Adán, Pote, Edwards, Catamo, Nuno Santos, Diomande, Morita, Inácio, Hjulmand, Gyokeres, Paulinho, e os outros do plantel, e como são (ou não são) capazes de lidar com o stress competitivo e as emoções de um jogo de futebol ao mesmo tempo que aplicam as suas competências técnicas e tácticas.
Desde o primeiro dia associei a imagem visual do novo Estádio José Alvalade aos azulejos que revestiam a sua fachada. Apesar de serem muito polémicos, nada consensuais entre os sportinguistas, a verdade é que sempre gostei deles. Apreciava-os pela sua beleza, pela forma como se conjugavam, e por utilizarem as cores tradicionais do Clube, estabelecendo uma identidade intrínseca de todo o complexo, ao mesmo tempo que se relacionavam com os azulejos que integram a arquitectura urbana lisboeta.
A Direcção leonina decidiu retirar os azulejos e, em parceria com a Galeria de Arte Urbana da Câmara Municipal de Lisboa, convidou o artista Daniel Eime para embelezar a Porta 3 do Estádio. Apesar de não estar concluído, já é possível apreciar o trabalho do conhecido artista, inspirado na figura de José Alvalade, e fiquei bastante impressionado com a obra realizada. Dominando a cor verde, o rosto do fundador do Sporting, meditativo, reflexivo, revela uma fortíssima consciência interior, sendo profundamente inspirador para todos os sportinguistas. Muito bom!
Daniel Eime é um cenógrafo e artista português que utiliza a rua como o melhor cenário para pintar, com participação em vários projectos a nível internacional. Os rostos a preto e branco ou coloridos são a base central que utiliza até hoje. Em 2008 começou a focar-se na arte do stencil para representar obras com personagens cujo olhar é enigmático. Sobre o seu trabalho no Estádio José Alvalade, Daniel Eime afirmou que “está a ser o meu maior desafio”.
Aguardo com expectativa positiva a época de 2023-24 da equipa masculina sénior de basquetebol. Apesar da saída de Travante Williams, os leões reforçaram-se com os norte-americanos Ken Norton, extremo/poste vencedor da Liga dos Campeões em 2019-2020 e 2020-2021, Mike Moore, extremo/poste, Malik Pope, extremo, e Ronald Curry, base, o canadiano Eddie Ekiyor, poste, e os portugueses Litos Cardoso, base, e Arnette Hallman, extremo. O início de época está a ser muito promissor, com as vitórias frente ao FC Porto (100-93), na final do Torneio Cidade Viana do Castelo, e aos espanhóis do Cáceres (90-79), para o Troféu Stromp.
Em 2022-23, o Sporting venceu a Supertaça e a Taça Hugo dos Santos, e o Benfica o Campeonato e a Taça de Portugal. A Liga Betclic inicia-se em 23 de Setembro e a equipa leonina defronta o Galomar às 15h00 no Pavilhão João Rocha.
O Tribunal Arbitral do Desporto considerou nula a decisão do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) que impediu António Adán de jogar no Sporting - Benfica relativo à 33ª jornada da 1ª Liga na época passada.
No mesmo acórdão são revelados os motivos que levaram a esta decisão e que assenta no facto do Sporting não ter conseguido apresentar a sua defesa. A mesma foi enviada no devido prazo para o Conselho de Disciplina, tendo, ao que tudo indica, acabado na pasta de 'spam' do email do organismo federativo.
Por essa razão, o direito de defesa, que vem consagrado no Regulamento Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, não foi devidamente exercido, o que implicou a nulidade e determinou a invalidade do castigo aplicado a Adán pela FPF.
Mais uma vez o Sporting a ser cobaia de experiências estranhas no nosso futebol!
O terceiro equipamento leonino para a época 2023-24 foi considerado o “Best Football Kit of August 2003”, com 76,2 dos votos numa votação final do X em que participaram mais de 10.000 pessoas. Já se venderam muito mais de 10.000 camisolas, o que a coloca como a mais vendida de sempre pelo Sporting. Inspira-se no equipamento alternativo de 2002-03 e 2003-04, as duas épocas em que Cristiano Ronaldo jogou na equipa principal dos leões, e comemora a inauguração do Estádio de Alvalade em 6 de Agosto de 2003.
A nova camisola constitui um tributo a Cristiano Ronaldo, cuja patente está associada aos produtos da Nike, é muito simbólica e constitui uma apurada estratégia de marketing e de comunicação. O facto de CR7 ficar inscrito no lugar habitualmente ocupado pela marca de equipamentos desportivos é bastante inovador e genial na forma como se associa o melhor jogador do mundo ao Clube que o formou para o futebol.
Quando colocada à venda, o Sporting explicou que são “20 anos do Estádio José Alvalade e 5 Bolas de Ouro depois, os melhores do mundo estão juntos numa só peça”. A camisola tem o preço base de 95 euros, com desconto para sócios.
Segundo se lê e ouve, o Sporting foi grosseiramente beneficiado no jogo com o Casa Pia, houve um erro do árbitro que o VAR devia ter corrigido. Aconteceu nos primeiros minutos e aquele golo condicionou o resto do jogo. O Sporting não precisa, não quer este tipo de “benefícios”, e eu detesto que isto aconteça com quem quer que seja. Foi isso que pensei e escrevi a propósito desse lance no jogo em Rio maior.
Entretanto, mais tarde, observei esta fotografia com atenção, tendo as linhas definidoras do posicionamento dos jogadores. E analisei com interesse um determinado pormenor. Lá se vê a bota branca de Paulinho, mas também é visível um ombro do defesa casapiano. No caso de Paulinho, como se verifica na imagem, estão em causa 9 centímetros, mas parece que o ombro do jogador do Casa Pia põe em jogo o avançado sportinguista. Ou não?
Infelizmente não podemos ter acesso ao diálogo entre o árbitro Nuno Almeida e o VAR Hugo Miguel. O VAR terá fundamentado a sua decisão ao árbitro, como é natural. Assim, ficamos a conhecer apenas o comunicado do Conselho de Arbitragem redigido ainda com o jogo a decorrer.
Em Rio Maior realiza-se o primeiro jogo fora de casa e, como sempre, é para ganhar. Na época passada vencemos os casapianos por 4-3 no Jamor. Um daqueles jogos masoquistas, três vezes à frente do marcador, consentimos o empate três vezes, e só aos 85 minutos é que festejámos. Trincão desbloqueou com um belo hat-trick e Pote fez uma jogatana das grandes. Bom jogo, muitas oportunidades de golo, qualidade técnica que encantou… mas tanto tempo a correr atrás do prejuízo! Daqui a pouco que seja uma vitória sem espinhas e que os nossos jogadores nos poupem a um sufoco semelhante. «Se Trincão desbloquear, será imparável», garantiu Rúben Amorim. Muito bem, que seja, digo eu, ele ou qualquer outro que leve os companheiros à desejada vitória!
Em 12 de Agosto de 1984, Carlos Lopes chegou isolado à meta na maratona dos Jogos Olímpicos de Los Angeles e conquistou para Portugal a primeira medalha de ouro olímpica do desporto nacional. O seu tempo de 2:09:21 vigorou durante seis olimpíadas, tendo sido batido pelo queniano Samuel Wanjiru, com 2:06:32 horas, nos Jogos Olímpicos de Seoul de 2008.
O país acordou para o ver naquela madrugada magnífica, e milhões de portugueses não se esqueceram daquele feito arrebatador. De facto, tudo o que ele fez foi esmagador e ainda hoje é considerado o mais completo atleta da história do atletismo português. Pelo seu espírito inquebrantável raramente falhava nos momentos decisivos.
No passado sábado, no Estádio José Alvalade, os quase 40 mil sportinguistas ovacionaram calorosamente Carlos Lopes, o fantástico atleta e o verdadeiro leão que se bateu com os melhores do mundo, que nunca se resignou e que porfiou mesmo confrontado com as maiores dificuldades. Como quando foi atropelado na segunda circular alguns dias antes da glória olímpica.
Vitorino Antunes fez parte do plantel leonino em 2020-21, e foi campeão nacional. No final dessa época, o Sporting prescindiu dos seus serviços e ele regressou ao Paços de Ferreira, onde já tinha jogado anteriormente. Refira-se que teve uma significativa carreira internacional, com passagens pelo Dínamo de Kyiv, Roma e Málaga, entre outros.
Quando Antunes saiu do Sporting no Verão de 2021 não se lhe ouviu uma crítica ou uma queixa por ter sido preterido pelo Clube, realçou sempre o seu sportinguismo e o orgulho de ter vestido de leão ao peito. Esse sentimento é visível nas redes sociais ou quando vai a Alvalade. É o caso desta belíssima e oportuna síntese do que é ser sportinguista, o orgulho de ser “diferenciado”.
O Estádio José Alvalade resulta de um projecto então elaborado pela Ballast Neddam International que construiu dezenas de estádios em todo o Mundo, entre os quais ArenA de Amsterdão, Vitesse Arnhem, Borrussia de Dortmund e Newcastle United. Os projectos desta empresa holandesa de construção e de engenharia são finalizados por arquitectos nacionais que os integram na malha urbana e introduzem elementos identificadores com a história e a cultura do clube e da cidade. Tomás Taveira participou com esta finalidade.
Os aspectos estéticos são inerentes ao gosto, sensibilidade e cultura de cada um. Nem de outra forma poderia ser. Considero que o nosso Estádio tem grande valia arquitectónica, inserindo-se na corrente neo-brutalista, e que é uma obra extremamente coerente com os seus princípios artísticos e arquitectónicos e com uma identidade própria. Tem excelentes condições acústicas, sendo um dos melhores estádios portugueses nesse aspecto. O fosso é uma questão de difícil resolução e o relvado tem sido classificado com a nota máxima.
Os azulejos exteriores do Estádio são elementos de design, e por essa razão Tomás Taveira não pôde impedir que o Sporting tivesse começado a retirá-los sem os substituir. Lamento profundamente esta decisão, pela sua beleza, pela forma harmoniosa como se conjugam e por utilizarem cores tradicionais do Clube, estabelecendo uma identidade intrínseca de todo o complexo. Deve ser salientado que se relacionam com a cidade de Lisboa em que os azulejos integram a arquitectura urbana.
Os azulejos não ganham campeonatos é certo, mas os aspectos simbólicos fazem parte da história e da cultura do Sporting. Foi uma decisão directiva a que faltou bom senso e bom gosto.
Entre os 29 jogadores que Rúben Amorim convocou para o estágio de pré-época, Tiago Ferreira “Mamede” será dos menos conhecidos pelos adeptos. Não surpreende. Extremo esquerdo ou direito, com 21 anos, foi operado em Novembro de 2021, depois de ter sofrido uma lesão grave no tendão rotuliano do joelho esquerdo. O último jogo foi frente ao Ajax, para a Youth League.
Depois seguiu-se uma prolongada recuperação e apenas voltou a jogar pelo Sporting, no empate (0-0) da equipa de sub-23 frente ao Marítimo, para a Liga Revelação. Participou em seis jogos (equipa B e sub 23) e marcou três golos. “Finalmente de volta ao lugar onde sou feliz: dentro de campo, muito contente pelos primeiros minutos”, escreveu o atleta na sua rede social.
Em 2021 já tinha sido chamado por Rúben Amorim para fazer a pré-época com a equipa principal, agora voltou a ser convocado. Para trás ficaram os tempos sombrios de angústia e de dúvida, e o criativo, leão desde 2010-11, acredita que é capaz de voltar a mostrar o seu valor. Na época de 2021-21 chegou a figurar na ficha de jogo do Sporting - FC Porto para a I Liga, mas o melhor talvez ainda esteja para vir.
Viktor Gyökeres pôs preto no branco e já é jogador sportinguista. Com 25 anos de idade, 1,87 m de altura, internacional sueco, é o jogador desejado por Rúben Amorim desde que ficou decidido que era necessário ainda mais um avançado. Custou 20 milhões de euros, que podem ascender até 24 milhões, e terá a maior cláusula de rescisão do plantel, de 100 milhões de euros, sendo o maior investimento da história do futebol leonino. Vai vestir a camisola nº 9.
As últimas duas temporadas do avançado sueco no Coventry fizeram disparar a cotação de Gyökeres. Ele foi um dos melhores avançados da Championship, o Sporting antecipou-se a outros clubes, nomeadamente da Premier League, e convenceu o jogador que era a melhor opção para ele. Tony Mowbray, o treinador do Sunderland, descreveu-o como o “Erling Haaland da Championship pela velocidade, pela força física acima do normal, mesmo para este campeonato”. Agora, o que os sportinguistas mais desejam é que “Vik” exprima todas essas qualidades de leão ao peito para glória do Clube e dele próprio.
Bem vindo à tua nova casa, Gyökeres!
ADENDA
O leitor pode ler aqui o comunicado do Sporting à CMVM, no qual estão explicados os detalhes de compra e venda, assim como o contrato que o jogador assinou com o Clube até Junho 2028, com uma cláusula de rescisão no valor de 100 milhões de euros.
As primeiras palavras de Viktor Gyökeres depois de ser oficializado como leão...
"É um sentimento fantástico, estava à espera disto e é muito bom ter tudo fechado e estar finalmente aqui. Estou muito feliz.
Vários grandes jogadores passaram por aqui e o Sporting CP produz muitos jogadores bons. O clube tem muita história e quando soube do interesse foi uma escolha fácil. Tive outras opções, mas senti que o Sporting CP era a equipa que estava mais interessada em mim e quando alguém te quer, isso significa que te querem muito e vão cuidar de ti. Esta era a melhor opção.
Tento atacar e ir para a baliza o máximo que posso quando recebo a bola. Além disso, tento criar boas oportunidades para os meus colegas também.
O primeiro dia foi bom, senti uma boa atmosfera no balneário e na Academia."
O Sporting Clube de Portugal foi fundado em 1 de Julho de 1906, tendo antecedentes no Sport Clube de Belas (ou Belas Football Clube), com breve existência, e no Campo Grande Football Clube. Descontentes com uma colectividade vocacionada para festas e actividades de convívio social, um grupo de dissidentes do Campo Grande reuniu-se em Assembleia Geral em 8 de Maio de 1906 para estabelecer os princípios e as normas de um novo clube e eleger a primeira Direcção, presidida pelo Visconde de Alvalade.
Terá sido nessa Assembleia que foi formulado o histórico voto “queremos um Clube tão grande como os maiores da Europa” e ficou estabelecido que haveria futebol, mas com ecletismo, até porque a generalidade dos fundadores eram atletas que praticavam também outras modalidades, nomeadamente atletismo, ténis, críquete, esgrima e tracção à corda. Em 1907 foi criado o primeiro emblema, com base no leão rampante do brasão de D. Fernando Castelo Branco, em fundo verde, e foram aprovados os primeiros Estatutos.
Inicialmente, o Clube era para se designar Campo Grande Sporting Clube, no entanto a Assembleia Geral de 1 de Julho de 1906 aprovou o nome de Sporting Clube de Portugal, por sugestão de António da Costa Júnior, um dos fundadores. Há o registo de que antes esse nome tinha sido referido em correspondência que foi trocada entre José de Alvalade e Francisco Gavazzo. Actualmente, passado mais de um século, é extraordinário registar a confiança manifestada desde logo pelos fundadores nos princípios e nos valores de uma instituição que é co-fundadora do futebol português na sua grande dimensão desportiva, social e cultural.
Na fotografia, uma equipa do Sporting em 1907-08 (revista “Tiro e Sport”, nº 378 de 30 de Março de 1908):
Em cima - Albano Santos, Henrique Costa, Charles Etur, Emílio de Carvalho, Cruz Viegas, José Belo, António Bentes e António Couto;
Em baixo - A. Rosa Rodrigues, Queirós dos Santos, C. Rosa Rodrigues, Nóbrega de Lima e Carlos Shirley.
O Bruno Coelho não estava bom dos neurónios quando terminou Benfica 1 - Sporting 2, o 4º jogo da final do campeonato de futsal que consagrou os leões tricampeões nacionais da modalidade. Talvez por isso, vendo pela frente o microfone de um repórter, ainda começou por dizer que “a minha vontade é chegar aqui e ficar em silêncio”, mas, lá está, com os parafusos a menos no cérebro, deu-lhe para a parvoíce: “Nacionalmente, está a faltar respeitar o Benfica, a camisola do Benfica, e é constantemente, seja aqui ou em Alvalade, a dualidade de critérios. Temos de respeitar o Benfica porque é por causa do Benfica que há audiências e que há gente a seguir esta modalidade.”
Se dúvidas houvesse, a verdade é que há uma grande diferença entre um benfiquista e um lampião. E o abençoado do Coelho deu um importante contributo para percebermos isso mesmo. É que ele pertence a um bando que parece que tem muitos adeptos, o “Bando dos Lampiões que têm a Mania que Mandam Nisto Tudo”, o célebre BLMMNT. Não desistas, coelhinho, que nunca te doa a voz, bota lume aí no foguetório!
A fotografia refere-se a um jogo em que pelos vistos o tal Coelho não participou. No final, João Matos consola Lúcio Rocha. Desportivismo. Respeito!
A 21 de Junho de 2002 e a 21 de Junho de 2017 foram inaugurados a Academia Cristiano Ronaldo e o Pavilhão João Rocha. São duas obras de importância excepcional em áreas relevantes do Sporting, a formação de jogadores de futebol e o ecletismo desportivo. Com a Academia, um projecto em que fomos pioneiros, honrámos todos os atletas que o Clube formou ao longo de quase um século e criámos as melhores condições para as novas gerações. Com o Pavilhão as modalidades passaram a ter enfim o seu espaço, deixaram de andar com a casa às costas entre Lisboa, Loures e Odivelas. Duas obras que dignificam o Sporting Clube de Portugal e o desporto português.
O Estádio José Alvalade inaugurado no dia 10 de Junho de 1956 tornou-se no local de encontro de várias gerações de sportinguistas. Sendo um invulgar fenómeno simbólico, constituiu o espaço social e o cenário desportivo de grandes momentos históricos do Sporting Clube de Portugal. A construção do Estádio foi uma verdadeira história de amor e paixão, que faz recordar um fado muito popular nessa época cantado por Carlos Ramos: “O amor é louco / não façam pouco / desta loucura”. Coisa de loucos apaixonados!
Curiosamente, o hábito de chamar “lagartos” aos sportinguistas está relacionado com o financiamento da construção da obra. Os benfiquistas chamaram “lagartos” aos títulos de subscrição, em virtude da sua cor e características gráficas. Numa verdadeira acção de marketing, o jornal Sporting de 10 de Fevereiro de 1951 proclamou que “cura-se a ferida com o pelo do mesmo cão, como é vulgar dizer-se” e determinou que “doravante, adopta-se (para os títulos) a designação de LAGARTOS para mais facilmente a propaganda atingir os seus objectivos”.
A verdade é que nos dias de jogo do Clube, nas proximidades do campo de futebol, ouvia-se exclamar a plenos pulmões “olhó lagartinho” ou “comprem o lagarto”, adquirindo a expressão outro significado aos olhos apaixonados dos leões. Entre os sportinguistas de há 30 ou 40 anos ainda era frequente chamarem-se de “lagartos” entre si, era como falar da concretização de um sonho. Através do Plano Financeiro, os “lagartinhos” angariaram uma verba de 7 716 539 escudos, ficando a construção em 25 mil contos.
1.
Manuel Fernandes foi operado no final de maio a um tumor.
Uma intervenção delicada, um cancro nas vias biliares nunca é um passeio no parque. É silencioso, ataca invisível e quando o vemos, quando o pressentimos, já é difícil derrotá-lo.
Mas o Manel, grande figura do nosso desporto, um dos símbolos maiores do Sporting, é um vencedor. E um vencedor como sabemos não é o que ganha sempre, mas o que nunca desiste de lutar.
2.
Dizem-me que a operação correu bem.
Talvez o Manel esteja já a fazer perguntas sobre a nova época, sobre quem sai e quem entra no seu Sporting, sobre a vontade que tem de se levantar, de ir ao café, de estar com os amigos, de ir a Alvalade.
Tudo no Manel é ginga de futebolista.
As pernas arqueadas, os olhos de menino encantado quando engana o defesa, quando lhe troca as voltas.
Tudo nele é futebol e balneário.
Sabe tudo acerca desta imbatível metáfora da vida, sobre os golos que se marcam e os que se falham, sobre a felicidade de ganhar e o medo de perder.
E é amigo do seu amigo.
Tem tantos amigos o Manel.
Amigos de todos os clubes.
É fanático do Sporting e vai aos arames.
Muitas vezes é cego na análise, mas acaba a discussão e procura o abraço e um jantar que resolva todas as arrelias de um bate-boca.
Manuel Fernandes é o futebol em estado puro.
É como o Joaquim Agostinho no ciclismo, ganhar é tão importante como ser boa pessoa.
Na aldeia de Sarilhos, muito perto da Moita, podia ter sido pescador ou salineiro, a sua casa podia ter sido para sempre a casa dos homens que iam para o rio ou para o mar, casas brancas e humildes com redes à porta para que as moscas não pudessem entrar.
Só que ele marcava muitos golos.
3.
Era um rapaz vivo, mas triste.
A sua mãe partira e o Manel só tinha 10 anos.
A mãe de quem ele gostava e dependia tanto. Ouvia com ela os relatos do Sporting e a sua morte foi talvez o detonador para ele se cumprir.
O detonador para que um dia tenha começado a jogar no Sporting, quem sabe se não terá sido isso?
Porque cada golo lhe era dedicado, porque todas as vezes que enganou os defesas, todos os penalties que conquistou era para o céu que olhava com o seu sorriso malandro.
Mas jogar no Sporting parecia um sonho distante.
É que apenas aos 16 anos calçou umas chuteiras pela primeira vez. Antes não havia dinheiro para isso, precisava de ajudar em casa e de comer todos os dias.
Só que no Sarilhense marcou muitos golos.
Depois foi para a CUF e marcou muitos golos.
E terminado o contrato com a CUF ia assinar pelo FC. Porto, mas rezou muito para que o Sporting o resgatasse, falou muito com a mãe, pediu-lhe que intercedesse.
O Sporting desviou-o mesmo e aí começou a sua história.
Golos e golos.
Um avançado predador, um rapaz humilde e de olhar travesso, de miúdo eterno com a marca de uma tristeza que o fez sempre separar o gosto pela bola da necessidade absoluta de não perder mais ninguém.
De ter a sua casa sempre com uma porta aberta para quem chega, de ter sempre pronto um bocadinho de vinho tinto e um queijinho, de ter benfiquistas e portistas a quem trata por “irmão”.
4.
O Manuel Fernandes está a recuperar de uma operação delicada.
É demasiadamente novo para deixar de marcar golos – o que continua a fazer dentro da sua cabeça.
Foi homenageado pelo Sporting antes do último jogo em Alvalade com o Benfica – e foi tão bonito ver toda a gente a aplaudir, o público dos dois lados, os jogadores das duas equipas, os amigos que lá estiveram.
E foi tão bonito ver os seus olhos brilhantes.
O seu silêncio num mar de aplausos.
Senti-o sozinho, dentro do seu mundo particular, a rever a sua vida desde o pé descalço de Sarilhos até ao cume da montanha de onde nunca mais sairá.
Obrigado, Manel.
Obrigado por todos os golos.
Mas sobretudo, obrigado por tudo o que és e ofereces aos outros.
LO
(Luís Osório na sua página no Facebook em 8.6.2023)
Num texto publicado ontem aqui no Camarote Leonino, Rui Gomes questionou os leitores se Rúben Amorim poderá ser o nosso Alex Ferguson e se é possível estabelecer alguma comparação entre ambos. Esta pergunta suscitou-me uma recordação que me acompanha desde a juventude na década de 1960: treinadores que provocaram grande entusiasmo ou consenso entre os sportinguistas, e que foram campeões nacionais, passado pouco tempo saíram do Clube perante a quase indiferença dos adeptos sportinguistas. Trata-se de um problema antigo e que tem origem nos anos 50 do século passado.
Na verdade, treinadores que foram campeões nacionais permaneceram pouco mais tempo no Sporting, por vontade deles ou por decisão dos dirigentes. Haverá razões para isso, algumas conhecidas, outras não, mas foi o que se passou com Tavares da Silva e Joseph Szabó campeões em 1954, Enrique Fernandez em 1958, Juca em 1962 (completou a época seguinte e voltou a treinar mais tarde o Sporting), Otto Glória e Juca em 1966, Fernando Vaz em 1970 (completou a época seguinte), Mário Lino em 1974, Fernando Mendes em 1980, Malcolm Allison em 1982, Augusto Inácio em 2000 e Ladislau Bölöni em 2002 (completou a época seguinte). Em 70 anos, apenas três treinadores, que foram campeões nacionais, permaneceram em toda a época que se seguiu ao título e só Rúben Amorim teve o “privilégio” de permanecer mais duas épocas completas.
É caso para pensar que tanta “chicotada psicológica” teve efeitos perversos no Clube. Com Rúben Amorim há uma oportunidade excepcional de estabelecer finalmente estabilidade na orientação técnica da equipa principal e aguardar com alguma paciência e confiança que surjam os resultados que se exigem a um treinador sportinguista. Ele é ainda jovem, conhecedor, ambicioso, vencedor, com invulgar capacidade de liderança e de comunicação e com provas dadas. Tem a confiança dos dirigentes e da maioria dos adeptos e deseja permanecer com um projecto a médio prazo para o Sporting. O futuro ninguém conhece, no futebol os imponderáveis são mais do que muitos, a racionalidade é pouca e a emoção anda à solta. Mas, talvez com Rúben Amorim o Sporting tenha alguém que construa uma equipa e um modelo de jogo, e que marque um período temporal como Joseph Szabó e Cândido Oliveira fizeram na década de 1940.
A secção de judo leonina tem dominado a modalidade em Portugal nos últimos anos. No Sporting Clube de Portucal desde 2011, Maria Siderot é uma judoca em destaque, tendo conquistado recentemente a medalha de bronze no Grand Prix Upper Áustria de Judo, um dos mais prestigiados eventos do IFJ World Tour e que qualifica para os Jogos Olímpicos de Paris 2024. "Luto sempre pelas medalhas e estou numa categoria (-48kg) em que me supero sempre. Respeito as minhas adversárias e elas também me respeitam", afirmou numa entrevista ao jornal Sporting.
Na competição austríaca, Maria Siderot venceu três combates, cedendo apenas nas meias-finais, o que a relegou para a luta pelo bronze. A judoca portuguesa (33.ª do ranking de -52 kg) ficou isenta na primeira ronda, para de seguida vencer a cabo-verdiana Djamila Silva, a brasileira Yasmin Lima e, nas meias-finais, perder diante da japonesa Kisumi Omori. No combate pela medalha de bronze, superou a alemã Annika Wurfel, com um desempenho implacável, ao pontuar para "waza-ari" nos primeiros segundos, numa acção concluída com uma imobilização, ainda dentro do primeiro minuto.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.