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No futebol, como na vida, não há certezas

Naçao Valente, em 18.04.23

Na vida existe uma grande dose de imprevisibilidade. O futebol porque faz parte da vida, e até pelas suas características, é um mundo de imprevisibilidade. O ex-dirigente Pimenta Machado ficou ligado à expressão: no futebol o que num dia é verdade, no outro é mentira.

Nós enquanto adeptos, gastamos algum do nosso tempo a discutir as peripécias do jogo, quase sempre com muita paixão e muito pouco racionalismo. Temos na ponta da língua as soluções para os problemas do nosso Clube, mas que não passam de soluções de trinta e um de boca, de quem não assume a responsabilidade de decidir, e ainda bem. As decisões certas ou erradas estão nas mãos de quem pode e  sabe decidir, com a consciência que elas são condicionadas por diversos factores, e logo sujeitas a erro.

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Ainda não há muito tempo, havia uma acentuada unanimidade em relação à conquista do campeonato pelo Benfica, com um percurso desportivo quase impecável. Bastaram duas semanas para se começar a pôr em causa essa conquista. A diferença pontual para os seus adversários próximos justifica essa dúvida. Esta situação prova que temos tendência para valorizarmos certas certezas, ignorando a imprevisibilidade das coisas.

O SCP por razões por demais analisadas teve um péssimo início de época, tem melhorado, mas ainda não estabilizou. Para seguir as principais análises, falou-se de má preparação da temporada, com alguma razão, mas esquecem-se vários factores aleatórios, como a saída inesperada de alguns jogadores, lesões impeditivas, um início de calendário muito difícil, ineficácia na concretização, pontos extraviados por falta de estrelinha, plantel curto, entre outros.

Tenho visto “crucificações” de jogadores (e que agora até estão a fazer muita falta) como responsáveis pela má época, como se o futebol não fosse um jogo colectivo, onde quando falha um falham todos, incluindo o treinador. É verdade que quem tem uma equipa de “craques” tem mais hipóteses de ganhar, mas temos o que temos de acordo com o que as condições nos permitem. Nesta ponta final, recuperámos terreno, mas o facto de ter um calendário mais apertado, mostrou debilidades que sempre estiveram presentes. E bastam duas ou três lesões para criar dificuldades.

A entrada na Liga dos Campeões pela via do campeonato, está novamente a afastar-se. O FCA, e o SC Braga, especialmente este, têm mantido regularidade não cedendo pontos, e penso que será difícil isso acontecer, mesmo tendo em conta a teoria da imprevisibilidade. O tempo escasseia e os adversários têm um calendário mais leve. Resta a Liga Europa onde o grau de dificuldade é maior, mas onde a equipa se tem superado. Há uns tempos escrevi sobre a possibilidade de ganhar a Liga Europa. Afirmei que, sendo difícil, acreditava nessa possibilidade. Mantenho essa convicção com a certeza de que na vida como no futebol, nunca há certezas.

P.S.: Vi um comentador desportivo dizer, referindo-se ao Sporting, que o Braga continua à frente, com um orçamento muito mais reduzido. No entanto, deve ter-se esquecido que esse clube também está a dois pontos do Antas, e a seis da equipa com maior orçamento. Como se esqueceu ainda que para além dos orçamentos existem muitos outros factores que influenciam uma época. Se fosse apenas uma questão orçamental, o Sporting não teria ganhado o último campeonato que ganhou, nem teria ficado em segundo lugar na época seguinte.

publicado às 03:04

Ar fresco... o atleta e o homem

Naçao Valente, em 30.03.23

Gosto de ver futebol e aprendi a reconhecer os grandes talentos que ao longo dos tempos se imortalizaram pela sua genialidade. Lembro, sem menosprezo por nenhum dos outros, Pelé, Eusébio e Maradona. Mais recentemente sobressaíram Cristiano Ronaldo e Messi. A ordem dos factores é arbitrário. No entanto, o reconhecimento das suas valias, acima da média, não implica qualquer tipo de adoração que alguns adeptos cultivam, de cariz quase religioso. Aliás, dou-me à consideração de separar o homem do atleta. Este caracteriza-se pela sua competência técnica, o outro pela sua humanidade, onde a humildade e a gratidão assumem papel relevante.

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Este texto vem a propósito da recente polémica gerada depois do último jogo da Selecção nacional de futebol, após Ronaldo ter mandado uma farpa ao anterior Seleccionador, que sempre o privilegiou, e com o qual se incompatibilizou depois de “birras” no Mundial. A expressão “ar fresco” teve a discordância de Bruno Fernandes.

O saudoso Manolo Vidal afirmou após a ida de Simão Sabrosa para o Benfica, que tivemos êxito na formação do atleta, mas falhámos na formação do homem. Esta afirmação pode aplicar-se a outros jogadores formados no Clube, o que acaba por comprovar que o que move estes atletas (haverá alguma excepção?) é sobretudo o dinheiro. Por outro lado, o treinador Manuel José manifestou a sua opinião sobre a expressão de Ronaldo. De uma forma frontal e até bastante agressiva disse:

«Ar fresco era se tirassem o Ronaldo da Selecção. É impressionante, mas ele esqueceu-se das origens. Portou-se mal com Fernando Santos, com os colegas e com os portugueses. Tem um cifrão em cada olho. O seleccionador tem de ter carácter e personalidade para lhe fazer perceber a idade que tem, que está a representar um país e que tem de dar exemplos de humildade. O Bruno Fernandes só disse a verdade e colocou-o no devido lugar».

Sem ter qualquer simpatia pessoal por Fernando Santos, e sem o admirar como técnico de futebol, tenho de manter gratidão pelo que conquistou com a nossa Selecção. Da mesma forma, agradeço a Ronaldo o contributo que deu à nossa equipa nacional, que sem dúvida gosta de representar.

Isso não invalida que não dê alguma razão a Manuel José, mau grado o tom, sobre a falta de humildade do atleta, considerando-se como inamovível e superior, e que aproveitando um jogo que correu bem, não resistiu a fazer uma “vingançazinha” a quem teve a coragem de o confrontar, como sendo apenas mais um. No entanto, não iria tão longe, excluindo-o da Equipa das Quinas. Deve lá estar enquanto o seleccionador entender e desde que não se considere “prima dona”.

A atitude, que não abona nada em seu favor como pessoa, acaba por prejudicar a própria Selecção, gerando polémica desnecessária, mas valorizando o seu ego. Desta forma, talvez não se possa considerar “ar fresco” mas ar contaminado.

P.S.: Sem pôr em causa o desejo da mãe de Cristiano Ronaldo, de o ver acabar a carreira no Sporting, nunca acreditei que fosse essa a sua real vontade, pela simples razão que não existem condições para lhe pagar o que pode ganhar. E não o vejo a jogar “pró-bono”. Ao invés, fiquei agradado com a afirmação de Pedro Porro ao dizer que em Portugal só jogará no Sporting. E nem é da nossa formação. Muito raro. Tiro-lhe o chapéu.

publicado às 03:04

E se ganharmos a Liga Europa?

Naçao Valente, em 21.03.23

No plano nacional e internacional é muito vulgar sobrevalorizar-se a Liga dos Campeões, desvalorizando-se a Liga Europa. E se é verdade que na primeira estão as melhores equipas de cada país, também é verdade que há países onde o nível futebolístico é muito baixo, sendo os seus melhores clubes, reflexo dessa situação.

Por outro lado, em função das quotas, países de futebol mais evoluído vêem ficar fora da prova rainha, equipas muito superiores, que rumam à competição dita secundária. Assim, vemos nesta equipas de grande potencial, em função dos clubes que ainda a disputam.

Em conclusão, há clubes ditos “tubarões” nas duas provas. Por isso, não consigo entender a menorização de uma delas e muito menos ainda a diferença nos valores financeiros que as separam. Razões que a razão desconhece.

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Neste momento até há, pelo menos no plano teórico, algumas formações na Liga Europa idênticas às da “Champions”. Deste modo, ganhar esta prova não é fácil e não deixa de ser um feito glorioso. O Sporting, de um país de grandes futebolistas, mas que numa maioria considerável jogam em clubes estrangeiros mais poderosos, tem que se bater com as suas armas, que com uma ou outra excepção, não se enquadram na categoria de atletas de topo. Mas contrariando essa dita supremacia, a nossa equipa, pôs fora da competição um dos maiores favoritos a vencê-la, com inteligência, com rigor, com entrega, e sejamos justos, com a dita “estrelinha”.

Depois da primeira “fava” o sorteio trouxe-nos uma segunda. Mais uma vez não partimos como favoritos, mas, quem sabe, se não faremos nova surpresa, com a garantia de que, se assim for, apanharemos uma terceira “fava”. Se passarmos estes obstáculos, acredito que temos via aberta para ganharmos o troféu.

Sei que cada jogo tem a sua história, mas num plano meramente “sentimental” começo a crer que há sinais que nos colocam na rota do sucesso. Seja como for, para chegar a bom porto, para além dos caminhos tecidos pelo “destino” temos de suar muito, correr muito mais que o adversário(s), acreditar e exponenciar, as nossas melhores qualidades.

Ultrapassado o primeiro grande obstáculo, contra muitas previsões, ganhámos confiança e motivação para o segundo, sem esquecer que o adversário para além da sua grande valia, joga tudo nesta prova, por razões conhecidas, enquanto a nossa equipa ainda tem que lutar pela melhor classificação no campeonato nacional, com plena consciência que temos um plantel curto, como se viu no jogo de Londres.

Com optimismo mas sem deixar de ser realista, tudo está em aberto, incluindo a vitória final, para a qual não falta vontade. E quem sabe se isso está escrito nas estrelas. Aconteça o que acontecer, já mostrámos que mau grado a participação, abaixo das expectativas, nas provas internas, temos competência para nos batermos, com os grandes da Europa.

publicado às 03:04

Crise, expectativas e realidade

Naçao Valente, em 18.02.23

As televisões, que por diversas vias têm grandes receitas com o futebol, encontraram nos programas de debates, meramente especulativos a captação de audiências. E tratam o futebol como se fosse a coisa mais importante das nossas vidas. Assim banalizam a palavra crise a partir de resultados desportivos, o que nesse contexto parece-me desadequado.

Crise num clube de futebol tem a ver com a sua sustentabilidade, assente numa boa ou má situação financeira. Mas para a comunicação social, uma equipa que perde jogos, se for um dos grandes, é logo atirado para a crise. Não admira por isso que o Sporting tenha estado debaixo de fogo durante está época. Acontece que no plano desportivo umas vezes ganha-se muito, outras menos,e acontece com todos os grandes.

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Está época do Sporting tem decorrido muito abaixo do esperado, o que não é sinónimo de nenhuma crise, porque tem vindo a recuperar financeiramente. A situação desportiva pode explicar-se por vários factores conjunturais, e tem a ver com expectativas e realidade. Fazendo uma breve resenha histórica das últimas tês épocas constatamos:

Nos primeiros meses em que treinou o Sporting, Rúben Amorim limitou-se a reconstruir uma equipa devastada por acontecimentos recentes. Na época seguinte, com aquisições de qualidade (Pedro Gonçalves, Nuno Santos, Pedro Porro) com a chegada de João Mário por empréstimo, e com lançamento de jovens prometedores (Gonçalo Inácio, Nuno Mendes) e ainda com o regresso de Palhinha, constituiu-se uma equipa que surpreendeu, e contra as expectativas muito baixas (dos adeptos, dos adversários e da imprensa) e conquistou-se o campeonato, sem esquecer que era a única prova que disputávamos e ainda sem adeptos nos estádios para complicar.

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Na época que se seguiu, as expectativas estavam muito altas e um pouco de acordo com a realidade. A equipa campeã perdeu João Mário, bem substituído por Matheus Nunes e perdeu Nuno Mendes, sendo reforçada com Sarabia. Deste modo, bateu-se até ao fim pelo primeiro lugar, acabando com os mesmos pontos da época em que se foi campeão. Apenas um adversário da zona das Antas muito reforçado, nos conseguiu ultrapassar.

Nesta época, as expectativas continuaram altas, mas a realidade mudou. A equipa perdeu Palhinha e Matheus Nunes (este com o campeonato já a decorrer) e deixou de contar com Sarabia. Está claro que Manuel Ugarte, apesar da sua elevada qualidade e Morita não são João Palhinha e Matheus Nunes, com a agravante que não estando os médios actuais disponíveis, tem que se recorrer a jovens da formação. Apesar de haver Pedro Gonçalves, não se tem mostrado competente nessa função. Acresce que durante quase toda a primeira parte da época, houve uma quantidade elevada de lesões, sobretudo na defesa.

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Se os adeptos não perceberem esta realidade de base e se não a adequarem a expectativas realistas, vão ter razões, que a razão desconhece, para “malhar” em tudo o que mexe. Eu sei muito bem que é polémico “pôr as coisas a nu”. Vão aparecer as teorias que o Sporting tem obrigação de vencer sempre. Em teoria, e como grande clube também o penso, mas também reconheço que para que isso aconteça tem que haver matéria-prima suficiente e de qualidade. E analisando a situação com frieza isso não existe.

Rúben Amorim tem dito que temos uma equipa bipolar. Com equipas ditas grandes temos feito bons jogos, até na Liga dos Campeões, e não foi com elas que perdemos mais pontos. Então coloca-se a seguinte interrogação: sem entrar em contradição com a minha análise, que mantenho, porque é que isto acontece? Deixo à reflexão dos leitores.

Em conclusão, discordo das abordagens que na comunicação social decretam uma crise a qualquer resultado negativo, e sem pôr em causa a vontade de vencer, penso que devemos adequar as expectativas à realidade. Com os pés bem na terra, acredito que mesmo com as limitações descritas, a equipa pode fazer melhor. E ainda falta muito campeonato. Até lá é preciso começar a preencher lacunas, tanto quanto possível.

publicado às 03:20

Bom senso precisa-se

Naçao Valente, em 14.02.23

Rúben Amorim foi e é uma lufada de ar fresco no Sporting. Em duas épocas completas ganhou o título nacional máximo, além de  outros títulos. Na época anterior disputou o campeonato até ao fim, com os mesmos pontos. Esta época começou a perder não nos jogos com os adversários directos, mas com derrotas com clubes inferiores, em termos futebolísticos.

Acresce que à saída de Palhinha (já prevista) e a de Matheus Nunes (imprevista) a equipa ficou sem a dinâmica do meio campo. Os substitutos com outras características não estão ao mesmo nível. Além disso, Trincão não é Sarabia. As muitas lesões associadas a um calendário com várias provas não ajudaram. Não houve até agora estabilidade na defesa e no meio campo.

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No início da segunda volta, estamos longe do primeiro lugar, mas o terceiro, no mínimo, ainda é possível, desde que se ganhem os jogos em que somos teoricamente superiores. E só falta jogar com um adversário directo. Dito isto, e porque o Sporting perdeu o jogo com o Antas, gerou-se uma discussão, tendo como alvo o treinador. Tivessem entrado as bolas que podiam ter entrado, e a conversa hoje seria diferente. É assim o futebol.

Aqui no blog, Amorim, com uma ou outra excepção, é o bombo da festa. Tudo é criticável na perspectiva do adepto, mas um jogo tem de ser visto na sua globalidade, E se não têm falhado golos mais que possíveis, o jogo seria diferente. Isto quer dizer que o treinador não teve alguma responsabilidade? De maneira nenhuma. Não é perfeito nem infalível. É novo na idade e também na profissão, e talvez por inexperiência e por posicionamento, não tem a manhosice do seu adversário, mas na minha perspectiva irá ser muito melhor treinador.

Para além dos costumeiros treinadores de bancada, os “erros” de Rúben Amorim têm sido escalpelizados na comunicação social, por jornalistas/comentadores, havendo alguns que pela sua reconhecida competência e isenção me merecem crédito. Afirmam que Amorim errou na constituição da equipa, nas substituições, e até nas justificações. Não ponho em causa as críticas, mas é importante e necessário lembrar as limitações que continuam a existir. A impossibilidade de utilizar Morita deu azo a adaptações que decerto não estariam previstas, embora se possa questionar a colocação de Trincão (doente) e a de Paulinho a extremo. A verdade é que na primeira parte, fomos superiores ao adversário, e nos faltou “estrelinha”.

Em conclusão, se Amorim errou há muitos outros factores que explicam a derrota. E se em função das circunstâncias teve de lançar no jogo, jovens que deviam ir sendo integrados progressivamente, estes acabaram por mostrar que já temos três reforços garantidos. E se aceitarmos algumas críticas como sendo justas, outras são muito exageradas. Quanto aos adeptos que põem tudo em causa pela, até agora, má época, sugiro que reflictam sobre o passado do futebol do Clube, desde os anos 60 do Século XX.

Um pouco mais de bom senso, precisa-se!

publicado às 03:04

Tenho mantido aqui um debate sobre os ídolos do futebol da actualidade, que geralmente são idolatrados, na minha opinião, de forma excessiva. Nunca gostei de idolatrias. Sei que Cristiano Ronaldo é adorado por muita gente em todo o mundo, pela sua acção na arte do pontapé da bola. Iniciou a sua formação no Sporting, mas fez quase toda a sua carreira no estrangeiro, salvo as participações na Selecção Nacional. Ganhou títulos, prémios, bateu recordes, mas o que também orientou a sua carreira  foi o dinheiro, Tal como outros dos jogadores do futebol moderno. Ainda me lembro de em Espanha Figo ter sido acusado de “pesetero”. Não é culpa deles, mas da sociedade em que vivemos, o que não me constrange a usar o espírito crítico.

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Fiz esta introdução, para fazer o contraponto com um atleta, de outra modalidade, que tem a característica de ser muito mais pobrezinha. Estou a referir-me ao grande Carlos Lopes, na minha perspectiva, um gigante que está ao mesmo nível dos astros do futebol. Vou aqui lembrar que do seu currículo internacional fazem parte, um título olímpico, um titulo mundial e um título europeu, entre muitos outros. Várias vezes esteve no pódio e fez subir a bandeira de Portugal até ao lugar mais elevado. Este atleta se eu fosse idólatra, seria seguramente meu ídolo. Por isso limito-me a reconhecer a sua grandeza, e prestar-lhe a minha gratidão.

Depois de terminar a sua carreira, tinha, em Lisboa, uma pequena loja de desporto, de cuja exploração penso que vivia. Em determinada altura chegou a deputado na Assembleia da República. Creio que mais tarde esteve ligado à estrutura do atletismo do Sporting, Clube que sempre serviu. Homem simples que nunca apresentou tiques de vedetismo, na sua vida como atleta, e muito menos como cidadão. Para mais, foi o último atleta europeu a ganhar aos africanos, que acabariam por se impor como dominantes nas provas de fundo. É com Rosa Mota o atleta que mais honrou o nome do país, na minha apreciação.

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Escrevi este texto, porque li hoje um artigo do escritor Luís Osório, no qual diz que Carlos Lopes está muito doente e quase não sai de casa. De uma forma sentida, presta-lhe uma muito justa homenagem. Escrevi este texto com o mesmo intuito, e onde quero salientar a simplicidade do homem e do atleta que se treinava na Segunda Circular. Não sei qual a gravidade da sua doença, mas desejo-lhe rápidas melhoras e peço aos deuses do desporto, se existirem, que o ajudem neste momento difícil.

A avaliação de quem se salienta por obras valiosas, não deve restringir-se à sua técnica, mas também à sua dimensão humana.

publicado às 04:04

A irracionalidade do adepto

Naçao Valente, em 12.01.23

Sejamos claros. O SCP não tem uma grande equipa, nesta época. Sem ser um catedrático neste ramo, atrevo-me a dizer que os adversários directos têm melhores plantéis, que sustentam equipas mais fortes do ponto de vista individual e colectivo.

Mesmo tendo em conta a situação referida, a verdade é que a prestação da nossa equipa, até este momento, têm estado abaixo do previsível. Tendo em consideração a constituição da equipa, são atípica as derrotas com clubes como o Chaves, o Boavista, o Arouca, e no domingo o Marítimo. Sem fazer uma análise exaustiva sobre esses resultados negativos, pode concluir-se que tiveram razões diversas e que são os grandes responsáveis pela actual classificação.

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Sem entrar nas diagnosticadas carências do plantel, curto, e sem alternativas consistentes, têm obrigação de fazer melhor. E se o Sporting tivesse nos jogos referidos, ganho apenas metade dos pontos totais, estaria ainda a lutar pelo título. É curioso que muitos dos pontos conquistados, foram com adversários de maior valia. Assim sendo, cabe à estrutura técnica avaliar essas prestações e agir em conformidade.

Pronunciar-se sobre tudo, muitas vezes como especialista é uma característica muito da natureza, confundindo opinião humilde e sensata, com soberba. É fácil para quem não tem que executar, fazer juízos de valor sobre os outros, raiando muitas vezes o absurdo. E se isto como norma geral já é contestável, no mundo do futebol atinge a irracionalidade, para não usar um termo mais forte.

 Julgar a partir de uma observação empírica, leviana e sem conhecimento de todas as variantes, o desempenho de profissionais de futebol, é uma prática usada por adeptos de todos os clubes. Mas no nosso Sporting atinge níveis inultrapassáveis. Se nalguma coisa somos campeões é nisso. Nesse sentido não posso deixar de me mostrar indignado.

Numa abordagem simplista é preciso recordar que com excepção da luta pela conquista do campeonato e da Taça de Portugal, ainda lutamos por outros títulos, a nível nacional e internacional e por uma boa classificação na prova principal. E convém também lembrar que nem chegámos ao meio da maratona. O negativismo, confundido com exigência, não ajuda a concretizar qualquer objectivo. Há momentos em que o silêncio é de ouro.

Ao terminar, não posso deixar de fazer uma ressalva para distinguir aqueles que criticam, mesmo que injustamente, dos notórios adoradores de ídolos, que continuam a andar por aí, e curiosamente, com pezinhos de lã, também no Camarote Leonino.

publicado às 03:04

Penas: patinhos e frangos

Naçao Valente, em 13.12.22

A saída do mundial do Catar da Selecção portuguesa , tem dado azo a muita verborreia. Palavras e mais palavras, umas atinadas outras nem por isso, porque se há área onde a capacidade opinativa do cidadão se manifesta com assertividade, é no mundo do futebol.

Sem sequer ter a veleidade de contribuir com mais uma análise com verosimilhança com a verdade, vou focar esta minha abordagem de uma forma muito menos sisuda, em tom de brincadeira, porque não é tempo de crucificações, que nada resolvem.

Albertus+Verhoesen-Peacock,+Rooster,+Chickens+And+

Com altos e baixos, tudo ia bem até ao momento em que fomos eliminados por um grupo de leões do Atlas. E fomos eliminados sem apelo nem agravo. De acordo com o senso comum são coisas que acontecem... “é futebol”. A verdade é que talvez nem seja bem futebol.

Levando a coisa um pouco mais a sério, no jogo da eliminação vejo as seguintes diferenças: uma equipa humilde, certa das suas limitações, confiante nos seus pontos fortes e vejo outra equipa confiante nas suas mais-valias, e que se assumiu como dominante, tendo deixado no tinteiro a ideia que dominar não significa vencer. Para usar a sua designação, vejo uma equipa de leões contra uma equipa de patinhos, com um ou outro frango.

Enquanto os patinhos deslizavam, mostrando a sua dócil graciosidade, os leões rugiam acantonados no seu território com as unhas afiadas. Os patinhos recreavam-se com a bola em malabarismos inconsequentes, e com medo das unhas afiadas do adversário. Os leões nem queriam acreditar, e assistiam ao espectáculo de camarote. E cada vez que tocavam na redondinha, iam directos ao objectivo, um pouco desajeitadamente, diga-se, até que um pato se trasvestiu de frango, e deu com os burrinhos na água.

O que resta de tudo isto, é que futebol não é ballet. O que custa acreditar é que já se sabia que os leões não sabem dançar, e não iam entrar na dança. O que resta desta fábula são lamúrias e penas, muitas penas. E com penas não se ganha a leões. Que se aprenda a lição.

P.S.: Num registo mais sisudo, porque nem todos os leitores têm sentido de humor e de absurdo, vou acrescentar que para além de erros de tácticas e dinâmicas, tivemos alguma infelicidade. Mas essa faz mesmo parte do futebol.

publicado às 04:04

Perder o futuro é pior que perder uma época

Naçao Valente, em 04.11.22

Nas redes sociais, e no Camarote Leonino, especificamente, “lavamos a alma” como se costuma dizer. Sinal dos tempos... Desabafamos, explanamos frustrações, desencantos, tristezas, e apresentamos soluções, com uma assertividade à prova de bala. Tudo aceitável. O que não é aceitável é “sujarmos a alma” com comentários que a cada desaire põem tudo em causa. A solução mágica é sempre a mesma: chicotada psicológica. Está provado que raramente resulta, porque as razões nunca são unívocas, nem simples. Estes defensores das chicotadas, fazem-no na minha opinião por ignorância, associada a estupidez, e ainda mais grave, por manifesta má-fé. E isso “tira-me do sério” se me permitem a expressão. Não ajuda a resolver nada, só complica.

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Resumindo, para não me alongar muito e repetir, as razões básicas dos maus resultados prendem-se com a existência de um plantel curto, com perda de alguma qualidade, e com uma panóplia de lesões, num curto espaço de tempo que não me lembro na história do Sporting. Por outro lado, enquanto os bons resultados geram confiança, os maus fazem perdê-la, entrando-se num processo de descrença que afecta o corpo e a mente. Como sair deste ciclo vicioso. Só sei que tenho que confiar, em quem já mostrou competência. Espero que toda a estrutura faça o diagnóstico e aplique a receita certa, com a certeza que não há receitas milagrosas.

Fala-se à boca cheia e às vezes à boca vazia, (sem conteúdo) que a época está perdida. Sejamos realistas. Faltam mais de vinte jornadas. O título está muito longe e não é só para o nosso Clube. Mesmo que tivéssemos ganho jogos que devíamos ganhar, seria difícil, porque o principal adversário, está a mostrar total competência, e não só nas provas internas. Este ano tudo lhe corre bem, ao contrário de anos anteriores, em que andou “à nora”.

Nas jornadas que ainda faltam, se conseguirmos corrigir as deficiências apresentadas, e afastarmos a mala pata, ainda temos objectivos, quer nas provas internas que disputamos, quer na vertente externa. Se conseguirmos ser positivos até ao Mundial, depois vamos ter tempo para melhorar. Se me perguntarem se estou optimista no imediato, terei que dizer que nem por isso, porque me parece que a defesa se está a compor-se, sofremos agora revezes no meio campo, sem ver, nesse aspecto, boas alternativas. E se a qualidade no onze principal é questionável, nos suplentes é um problema. Foi significativo ver o treinador atirar o casaco ao chão quando Nuno Santos se lesionou

Seja como for, para ultrapassar os pontos mais negativos será preciso tempo. Entretanto é fundamental apoiar a equipa, sem baixar a exigência no que diz respeito à entrega. E ter alguma compreensão para factores, que não dependem apenas da vontade. De qualquer modo, está à vista que esta não será uma época muito positiva, mas acontece a todos. E como já referiu o nosso treinador, mais importante que perder uma época, é não perder o futuro. Eu acredito em toda a estrutura, dado que já mostrou capacidade para fazer crescer o Sporting. E o que gostaria de ver é que para além de “lavagens de alma” bem ou mal-intencionadas, que valem o que valem, é que estivéssemos bem unidos no apoio aos atletas dando-lhes o tempo necessário para recuperarem a indispensável confiança, a todos os níveis.  Realisticamente e sem falsos moralismos.

publicado às 02:34

Dos tomba-gigantes ao cansaço mental

Naçao Valente, em 18.10.22

No futebol luso há uma diferença abismal entre as equipas das diferentes divisões, em função dos meios financeiros que as distinguem. Daí falar-se de tomba-gigantes às equipas de escalões mais inferiores que derrotam adversários da primeira divisão. Costuma ser uma situação pontual e pouco frequente.

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O que se está a passar esta época, na Taça de Portugal, onde um número considerável de equipas da primeira linha está a ser afastado por clubes de uma divisão, teoricamente, muito inferior, foge um pouco ao que costuma ser a regra. Isto corresponderá a uma situação pontual, ou indiciará uma mudança, na qualidade competitiva dessas equipas? Se assim, como acontece em países de futebol mais evoluído, não deixa de ser uma boa notícia para a evolução do nosso futebol.

De facto, mesmo os chamados “grandes” com excepção do Clube das Antas, que fez uma espécie de jogo treino, com um clube que até veste equipamento idêntico, tanto o Sporting, como o clube de Lisboa e Benfica, tiveram sérias dificuldades. E se o Sporting CP ficou pelo caminho, o SLB, passou à tangente com muita estrelinha.

Convém escalpelizar um pouco o que se passou com o nosso Sporting, que é o que nos interessa particularmente. Li montes de análises, desvairadas opiniões, e até previsões, quando não sentenças assertivas, desde as moderadas até as que vêem o Sporting no fundo do poço. No meio de toda a verborreia, e acrescentado mais alguma, quero assinalar em síntese alguns aspectos. O SCP jogou mal com o Varzim, não teve arte e engenho para se libertar da teia bem montada, e pareceu-me sofrer de depressão bipolar, isto é balançando entre a euforia e o desespero.

Podem dizer que a equipa é fraca, que o plantel é curto, que regrediu em vez de progredir, que tem tido muitos lesionados, que o treinador é teimoso e anda à nora, até no discurso, e que há jogadores que deitam tudo a perder. Tudo isto são verdades, ou meias verdades, mas que só poderão ser ultrapassadas com serenidade para chegar à raiz do problema, e encontrar a terapêutica certa. Na minha análise (apenas mais uma) esta equipa precisa de um bom psicólogo, porque para além de algum cansaço físico, parece-me que há sobretudo um grande cansaço mental.

Explico. Esta equipa começou bem o campeonato, apesar das dificuldades inerentes. Foi à Pedreira onde fez um grande jogo, mostrando personalidade e alegria de jogar, e com um pouco de estrelinha, que tem faltado, teria trazido três pontos. Nas Antas, com o campeão em título, voltou a fazer um bom jogo, que poderia ter um resultado diferente não fora a grande exibição do guarda-redes portista.

Depois perdeu pontos em jogos que dominou totalmente, onde teve oportunidades, mas não marcou. Na Europa começou a competir com grande personalidade e com vitórias inesperadas. Apesar de um ou outro deslize nas competições internas, a equipa continuava relativamente bem, até chegar o Marselha, a cereja em cima do bolo, que a desequilibrou total e mentalmente.

O que se viu em Barcelos, foi uma equipa medrosa com receio de errar, sem um rasgo de audácia, sem assumir qualquer risco, sem mostrar criatividade, sem fazer o jogo que já mostrou saber fazer. Pela primeira vez fiquei preocupado. Amorim, como responsável, tem de analisar muito bem a situação para mudar o 'chip' na cabeça dos jogadores.

E porque esta equipa já mostrou que tem valor, os adeptos mais do que traçarem destinos apocalípticos e criarem um muro de lamentações, devem apoiar incondicionalmente. Só assim poderão sair da teia em que se enredaram. O lema, Onde Vai Um Vão Todos, nunca fez mais sentido.

publicado às 03:49

Contextos, atitudes e resultados

Naçao Valente, em 11.10.22

O nosso redactor Leão Zargo, com uma grande capacidade de síntese,  faz a comparação entre a equipa actual e a que ganhou o campeonato, escrevendo num comentário, que esta não mostra a mesma capacidade mental e emocional, para sofrer em campo, e interroga-se, se não haverá também falta de disponibilidade. Tenho vindo a interrogar-me sobre essa diferença relativamente à atitude competitiva e chego à mesma conclusão. No entanto, e sem querer menosprezar essa evidência, penso que há outras diferenças que vou procurar especificar, para servir de base a uma reflexão mais desenvolvida.

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A equipa que conquistou o título, de forma imprevisível, começou esse campeonato com expectativas muito baixas. Apenas alguns adeptos, dos mais optimistas, apostariam nessa conquista, com base mais na fé clubística do que em dados objectivos. Era uma equipa nova que contava com João Palhinha e João Mário, e onde entraram  jogadores como Pedro Porro (desconhecido), o veterano Antonio Adán (suplente de onde veio), duas promessas Pote e Nuno Santos, e vindos da formação,  Nuno Mendes e Salomão, além de Matheus Nunes.

Esta equipa começou bem o campeonato ao mostrar personalidade, enfrentado sem medo o poderoso clube das Antas, e que chegou ao primeiro lugar, com uma atitude altamente competitiva, e que surpreendeu. Contudo, sempre manteve um comportamento humilde, acompanhado da estratégia definida como jogo a jogo. O que chamamos de estrelinha também a acompanhou.

Lembro-me, como exemplo, da vitória contra o FC das Antas, na Taça da Liga, dando a volta ao marcador mesmo ao cair do pano. Também em Braga, com dez jogadores em campo, desde muito cedo, conseguiu-se triunfar. Em consequência, a equipa começou a ganhar confiança e motivação, jogo após jogo. Por outro lado, os nossos adversários directos, com um início algo mais irregular, e certamente desvalorizando a nossa equipa, permitiram que se conseguisse um avanço considerável. Quando se aperceberam já era tarde, o que até permitiu, na recta final, desperdiçar alguns pontos.

A equipa da época seguinte, sem grandes alterações, manteve o mesmo ritmo competitivo, jogando até com mais proficiência, e assumindo-se claramente como candidata a todos os títulos, acabando por fazer os mesmos pontos. Perdemos esse campeonato pela maior  regularidade do nosso adversário, e por dois deslizes, que podem acontecer a qualquer equipa. Em suma, na minha perspectiva, uma equipa com mais qualidade, e com a mesma atitude de “fato macaco”.

Nesta época, partimos de um patamar mais elevado, mas com contratempos inesperados. Lesões de jogadores importantes, saída do plantel, do médio Matheus Nunes, com o qual o treinador contava. Pode parecer de somenos mas não foi. Implicou adaptações que não estavam previstas, com reflexo no jogo colectivo. Ao mesmo tempo tivemos, por caprichos do calendário um início muito exigente. Essa situação que gerou perda significativa de pontos, não pôde deixar de ter reflexos no comportamento anímico dos jogadores, sendo ainda agravado com derrotas não esperadas e injustas.

De acordo com o historial que tracei penso que a diferença na estrutura da equipa, e nos resultados negativos, conduziram do ponto de vista psicológico a alguma descrença. Ao contrário do que se verificou no ano do título, essa descrença levou, possivelmente, a uma menor disponibilidade física e mental. Contextos diferentes geram situações diferentes. Vitórias com regularidade, justas ou injustas, melhorarão os níveis mentais e emocionais, com reflexos na atitude.

publicado às 03:04

Crise? Qual crise?

Naçao Valente, em 04.09.22

Costuma dizer-se que repetir até à exaustão um acontecimento acaba por o banalizar. Nesse sentido, a utilização exagerada e muitas vezes despropositada da palavra crise pode tirar-lhe o verdadeiro significado. Torna-se banal falar de crise a propósito de tudo ou de nada, no âmbito da política, da economia, da sociedade. E como não podia deixar de ser o seu uso tornou-se useiro e vezeiro no futebol.

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A verdade é que ninguém sobrevive sem pão, genericamente falando, mas todos podemos viver sem futebol. Esta modalidade desportiva começou há pouco mais de um século como entretenimento para quem o praticava, transformou-se num espectáculo de massas que move milhões.E criou um mundo que gira à sua volta, que o divulga e dele se alimenta, e que para além da divulgação  necessária, especula e fomenta, no mau sentido, rivalidades e ódios.

A palavra crise tornou-se tão banal que é utilizada pelo mundo comunicacional a propósito de um qualquer desaire desportivo, quase como se isso não fizesse parte do desporto. Curiosamente, ou talvez não, essa decretação de crise é amplificada quando se trata de clubes com mais adeptos. Na minha perspectiva, essa criação de factos, não é inocente. Explora a parte psicológica do ser humano, visando tirar disso proveitos, relacionados, entre outras coisas, com audiências.

O Sporting foi vítima recentemente dessa criação especulativa pelo facto de ter perdido dois jogos, um de alta dificuldade, com um adversário, no mínimo do mesmo nível, e de um outro com adversário teoricamente inferior, mas que pela imponderabilidade dos jogos de futebol, ganhou sem mostrar qualquer superioridade durante o tempo de jogo. Horas infinitas de análises e debates intensivamente inúteis manipulam as mentes de adeptos que “emprenham pelos ouvidos” e acabam por se deixar contaminar por esse vírus da manipulação.

Crise? Qual crise? Crise é não ter comida no prato, crise é não ter habitação, crise é viver num clima de guerra, entre outros exemplos. Mesmo no mundo restrito do futebol, crise é um clube deixar de cumprir os seus compromissos, deixar de pagar as contas, incluíndo salários de trabalhadores. Na vertente desportiva é sempre melhor ganhar do que perder, porque também pode ter reflexos na gestão económica. Mas em qualquer prova apenas pode ganhar um. Como exemplo lembro-me da Alemanha onde o campeão se repete ano após ano. E em consequência os outros deixam de existir?.

O Sporting esteve longos anos sem ganhar campeonatos, e continuou  pujante. Enquanto adeptos não queremos que isso volte a acontecer, mas não é pondo tudo em causa após um ou outro mau resultado que se inverte essa tendência, indo atrás da lenga lenga da crise, criada externamente, mas logo adoptada internamente? Nos momentos maus pelos quais todos os clubes passam, é preciso cabeça fria, para não criar uma verdadeira “crise” de confiança.

Todos sabemos que os adeptos não se pautam pela racionalidade, mas a perturbação que geram em quem tem que resolver os problemas, pode agravar em muito a situação. Eu tenho lido opiniões de bradar aos céus: leigos fazendo análises individuais e colectivas sem fundamento, como verdades absolutas, que a realidade a seguir desmente, mas que não impedem que voltem ao mesmo registo. Exemplo disso é a insistência num ponta de lança como se estes estivessem ao preço da “uva mijona”, ou a crítica às aquisições possíveis. É assim a natureza do mero adepto. Temos que viver com ela, mas que chateia, chateia. Que o chorrilho de opiniões sem fundamento, não cheguem ao céu, para que o SCP continue no seu caminho, conduzido por quem tem essa competência. Só a união faz a força.

publicado às 03:49

Uma andorinha não faz a primavera

Naçao Valente, em 17.08.22

A frase do título que até serviu de mote para uma canção do saudoso cantor Carlos do Carmo, aplica-se à saída do jogador Matheus Nunes do Sporting, que tanta discussão tem gerado. E aplica-se com toda a propriedade, pois uma equipa de futebol, composta por várias individualidades, só terá sucesso se elas se constituírem como um colectivo coeso. Quem não tem memória curta lembra-se que ganhámos jogos com dez e contra onze.

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Matheus Nunes é um jogador bem acima da média, o que se pode chamar na linguagem popular, um craque. Quem não gostaria de ter uma equipa com onze Matheus Nunes, em todas as posições, mas a verdade é que não conheço nenhuma equipa que assim seja. Uma equipa de futebol é constituída por “estrelas”, e por “carregadores de piano”. E é na articulação entre todos, em prol do conjunto, que tem mais ou menos êxito.

A perda de um jogador muito influente poderá causar alguma perturbação do ponto de vista individual, mas o mais importante é não se perder a dinâmica do grupo. E qualquer técnico sabe que tem que estar preparado para substituir jogadores, em função de castigos e lesões. Neste sentido, parece-me um autêntico disparate dizer, como já li, que a ausência do Matheus no Dragão, é sinónimo de derrota. Imaginando que Matheus jogava, quem pode garantir que não fazia um jogo menos conseguido? Quem pode garantir que com Matheus ganhávamos, e que sem ele perdemos? Quem pode garantir que com Matheus seríamos campeões, e que sem ele não seremos?

Não pretendo com isto desvalorizar a importância do jogador, que o treinador tentou segurar até ao limite, mas não consigo entrar na dramatização que alguns adeptos criam à volta da questão, como se a ausência de uma peça, por mais importante que seja, ponha em causa a prestação da equipa nas provas que tem que disputar, indo até ao absurdo de se pôr em causa o próprio projecto. Continuamos a jogar com onze, e como dizia um treinador famoso, se não joga o Zé, joga o Manel. Para além disso, o mercado continua aberto e, certamente, porque o negócio do Matheus não se fez de um dia para o outro, já estão previstas alternativas.

Confio na equipa técnica e estou convicto que encontrará a solução adequada para que a equipa mantenha a sua dinâmica de jogo, que esteja focada e motivada para ganhar, que dispute cada lance como se fosse o último. Haverá no plantel gente de qualidade à espera da sua oportunidade. Quero lembrar, como exemplo, que se Acuña não tivesse saído, Nuno Mendes não teria tido, tão cedo, a oportunidade que teve, e que o catapultou para altos patamares, tendo com a sua saída aberto a porta a Matheus Reis, que para a sapiência de muitos adeptos, era um flop.

Portanto, e em jeito de conclusão, gostava que na análise geral destas situações, houvesse um pouco mais de ponderação e não se partisse para radicalismos extremos, sem qualquer base credível. O campeonato é uma prova longa, onde a regularidade é fundamental. Não adianta chorar sobre o leite derramado. Temos de contar com os que estão e fazer de cada jogo uma final, a começar pelo próximo.

Para além da saída do jogador apenas do ponto de vista da sua função desportiva, existe a questão das mais-valias que vai gerar, que merece, só por si, uma outra abordagem.

publicado às 03:04

O mal-amado

Naçao Valente, em 09.08.22

É natural como respirar. Há pessoas que por razões diversas criam anticorpos nos seus concidadãos. Isso verifica-se muito frequentemente no mundo do pontapé na bola, em relação aos atletas. Podem designar-se como mal-amados, e existem em todos os clubes.

O assunto vem a propósito do que aconteceu ontem com o jogador do Sporting, de nome Ricardo Esgaio, considerado por uma turba de adeptos, de inteligência duvidosa, e de civismo abaixo de zero, o principal responsável pela derrota do Clube em Braga. Se a sua responsabilidade no desenlace do jogo é aceitável numa análise primária, já os insultos que sofreu na sua página nas redes sociais, que teve que encerrar, é inadmissível.

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Ricardo Esgaio é, desde que voltou ao Clube em Julho 2021, um mal-amado, como outros, constantemente vilipendiados, mas que não interessa agora referir. A turba que usa, cobardemente, o teclado como uma arma, falta ao respeito a um profissional que faz o seu trabalho com seriedade, e merece todo o repúdio, independentemente da razão que tenha ou que não tenha. E não há qualquer justificação para tais actos que revelam não apenas falta de civismo, mas uma dose assinalável de estupidez.

Uma equipa de futebol é composta por um conjunto de atletas, neste caso profissionais, preparados especificamente para defender o seu clube. Mas além de atletas são pessoas com sentimentos e com família, como todos nós. Não podem ser vistos como máquinas infalíveis e objectos onde qualquer turba pode  descarregar as suas frustrações.

No jogo de domingo em Braga, as equipas tinham onze atletas em campo, porque o futebol é um jogo colectivo, onde cada um desempenha a sua função em prol do mesmo. Deste modo, quando uma equipa perde, perdem todos e não só uma ou outra individualidade. Responsabilizar um atleta por um erro num jogo de noventa minutos, mostra não perceber a essência do futebol. Quando o mal-amado Esgaio entrou em jogo, o SCP tinha sofrido dois golos, sempre pouco depois de ter marcado. E não sofreu ainda mais outro golo pelo corredor contrário onde Esgaio jogou, graças à inspiração de Adán. Portanto, o terceiro golo foi um erro colectivo de toda equipa, com relevo para o sector defensivo.

Até se pode admitir, como tenho lido, e apesar de toda a subjectividade, que o mal-amado Esgaio não é jogador para o Sporting. O que não se pode admitir é que seja eleito como bode expiatório e muito menos insultado publicamente, e na sua própria “casa”. E em sua defesa e na de todos os outros mal-amados não pude deixar de expressar o meu protesto, e manifestar a minha solidariedade, com a consciência que a turba continuará na sua saga, porque, infelizmente, há gente que não é educável.

publicado às 03:19

Contratações: perspectivas e realidades

Naçao Valente, em 08.07.22

O futebol como gerador e alimentador de emoções, criou dentro se si e à sua volta uma máquina que movimenta milhões de euros, e garante milhares de empregos. Por isso, mesmo em período de menor actividade desportiva a máquina não pode parar. Na ausência de competições, a atenção dos adeptos é dirigida, pela vertente comunicativa, para os negócios dos clubes, sobretudo relacionados com compra e venda de activos.

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Para além do dia a dia real dos clubes, a máquina informativa alimenta-se de exercícios de imaginação, quando não de adivinhação sobre o futuro imediato. São oráculos modernos, que baseados no que chamam de fontes, vão para além do óbvio, para manterem presentes as suas audiências.  Prevêem transferências, discutem valores, garantem reforços. São um espectáculo dentro do espectáculo.

Nós adeptos, uns mais que outros, gastamos uma boa parte do nosso tempo enredados nos meandros de especulações. Entramos na dança e rejubilamos , indignamo-nos, criticamos. Muitas vezes sem profundo conhecimento de causa, julgamos como juiz em causa própria, baseados em “sound bites

Depois de passar a poeira e de vir à tona a realidade,  que pode ser ou não como foi sendo pintada, vamos ao que realmente interessa, que é o jogo jogado com os protagonistas reais, e não com os inventados. Nesse aspecto, e no que ao SCP diz respeito, parece haver uma certeza razoável. A nossa equipa não deve sofrer alterações significativas. Dos jogadores fundamentais sabemos que saiu Palhinha, e que talvez saia Matheus Nunes. Se assim for, a espinhal dorsal mantém-se com alguns reforços pontuais, adquiridos sem utilização de recursos exagerados.

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Ao contrário, os nossos rivais directos, parecem estar a investir “à grande e à francesa” quase que numa espécie de campeonato do defeso. Sem negar a natureza de adepto, procurando valorizar o que é nosso, entendo que, discretamente, estamos no caminho certo. Muitas vezes a melhor equipa não é a que está recheada de estrelas, mas a que mantêm a sua coesão, assente na continuidade, e na assunção da modéstia.

Em suma, para além das usuais perspectivas de comentadores profissionais ou ocasionais,  embora possa parecer que estamos a perder no campeonato das contratações, considero que a estrutura técnica está, dentro dos condicionalismos e da realidade, a  cumprir um plano que se pretende que vá para além do imediatismo e que garanta solidez.

publicado às 03:49

O "estranho" caso de Rúben Vinagre

Naçao Valente, em 30.06.22

A situação do jogador Rúben Vinagre tem sido notícia nos últimos dias na comunicação social. A questão que se evidencia é porque razão o SCP vai emprestar um jogador, pelo qual pagou dez milhões de euros, recentemente, por metade do passe. Porque o Sporting não se pronunciou sobre este assunto, surgem as mais variadas especulações. Sem ter qualquer explicação para além do que circula nas opiniões de todos os matizes, talvez se possa fazer um pouco de história, para tentar enquadrar o que se passa.

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Vinagre veio para o Sporting por empréstimo, com cláusulas de compra que se podiam tornar obrigatórias. Veio, seguramente, com o aval da Direcção e da equipa técnica. Não sei de quem partiu a sugestão, mas sei que não viria sem a concordância do treinador. Também me parece consensual que o objectivo fulcral da sua contratação seria ocupar o lugar deixado por Nuno Mendes. A sua utilização nessa posição no início da época parece comprová-lo.

Enquanto simples curioso, não vou manifestar opinião sobre as valências do jogador. O que o seu percurso mostra no Sporting, depois de algumas exibições prometedoras,  é que se eclipsou na sequência do jogo com o Ajax. Acusado por observadores de ser a “besta negra” desse encontro, ainda voltou a ser utilizado, mas sempre com prestações muito pouco convincentes. Em abono da verdade, e mau grado erros próprios, ele não foi o único que nesse jogo colapsou, foi praticamente toda a equipa, mas acabou por ser o principal bode expiatório.

Não sei se o eclipse que se seguiu na sua utilização se deveu a falta de qualidade, ou a uma quebra psicológica. O que aconteceu foi que Matheus Reis se impôs pelas suas exibições e por outro lado, Nuno Santos mostrou competência no lugar. Seja como for,  o que está a causar estranheza é a sua compra, seguida de empréstimo.

Entrando na área de pura especulação, penso que não estaria nas intenções do Sporting adquirir o atleta pelas verbas da cláusula contratual, a não ser que o jogador tivesse uma evolução que o valorizasse para próximo desses valores. Então porque aceitou o SCP essa cláusula? Pela informação que circula, estaria nessa cláusula a obrigatoriedade de compra desde que atingisse os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, o que se concretizou. Talvez ninguém, na estrutura, esperasse que a equipa estivesse já preparada para cumprir esse objectivo. Nessas circunstâncias, o Clube foi confrontado com uma inevitabilidade, a que não pôde fugir.

 A estar certa esta minha apreciação, coloco as seguintes questões: terá sido feita uma má avaliação na aceitação das cláusulas do empréstimo? Perante as evidências, e havendo soluções para aquele lugar, terá a estrutura técnica decidido pôr o jogador a jogar noutro clube, com a intenção de o valorizar e poder recuperar o valor investido?

À margem

Sem prejuízo do que aqui debatemos e da sua importância, é preciso não esquecer que  há vida para além do desporto. A falta de leitura é um défice da nossa sociedade. Por isso aqui deixo uma modesta sugestão: INQUIETAÇÕES,  vendido pela Poesiafaclube, ou através do email: jmateus7@gmail.com.

publicado às 03:04

Ser Sportinguista

Naçao Valente, em 21.06.22

O que mais e melhor caracteriza o adepto de futebol é a irracionalidade. É uma verdade, pallisseana, que de tão corriqueira, nem merece qualquer desenvolvimento. Nós adeptos, de qualquer clube, somos capazes de nos indignar com uma má arbitragem, e “pintar a manta” mas ficamos de todo impávidos perante a diminuição de direitos, nomeadamente monetários, na nossa condição de cidadãos. Estranhos estes terráqueos diria um ET vindo do espaço.

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Ser sportinguista ou de qualquer outro clube, uma vez assumido, é como ter uma pele que não sai nem com benzina. Pelo nosso clube perdemos as estribeiras e somos capazes de dizer e fazer muitas coisas que não fazemos normalmente. Se me perguntarem porque sou sportinguista só tenho uma resposta: sou.

Tenho assistido a discussões entre sportinguistas que me deixam perplexo e estarrecido. Pessoalmente não aceito que alguém se considere melhor sportinguista que outro. Nem sequer acredito que haja bons e maus sportinguistas. À nossa maneira todos somos iguais, embora apareçam alguns “melros” sempre prontos para nos dividir. Podemos divergir em aspectos clubísticos, fazer críticas, tanto a atletas como a dirigentes, mas sempre com o foco no máximo denominador comum.

Vem isto, também, muito a propósito da discussão bizantina que se gerou com a questão da contagem  de títulos, que começou com a atribuição, completamente desnecessária,  de quatro títulos  dos anos 30, considerados campeonatos nacionais, ao SLB. Muito depois, alguém do SCP, com alguma razão em função do sucedido, lembrou-se de reivindicar mais quatro campeonatos nacionais. Assunto que como era de esperar ia dar azo a diversas interpretações e discussões, que vão para além do âmbito clubístico.

Reconheço que isto é um assunto bastante polémico, mas como livre-pensador, não abdico da minha apreciação pessoal, mesmo contra a corrente maioritária. Em resumo, foi errado atribuir esse títulos ditos experimentais, ao Benfica, como está a ser errado atribuir os mesmos conquistados nos anos 20 e 30 ao Sporting. Em boa verdade, e depois de uma pesquisa simples sobre o assunto concluí que o actual campeonato teve origem em 1938 e só a partir daí devem ser contabilizados os títulos.

"Por virtude da reforma a que se procedeu no Estatuto e Regulamentos da Federação, os Campeonatos das Ligas e de Portugal passaram a designar-se, respectivamente, Campeonatos Nacionais e Taça de Portugal".

— Federação Portuguesa de Futebol Relatório de Actividades 1938 (FPF)

 "acabar com os Campeonatos das Ligas e substituir o Campeonato de Portugal das jornadas em sucessiva eliminações, por um campeonato de maior rigor e regularidade, pelo sistema de "poule" em duas voltas"

— Acta FPF

1938

Ir para além disto é entrarmos no campo da especulação avulsa. O que na minha análise é correcto, consensual, e que deveria sobrepor-se a todos os jogos de interesses, é o seguinte:

“O Sporting Clube de Portugal nunca quis ter mais títulos do que aqueles que realmente ganhou e assim pode proclamar sem que ninguém o possa contrariar, que em termos de competições oficiais de futebol de âmbito nacional e na categoria principal, é detentor de 4 Campeonatos de Portugal, 19 Campeonatos Nacionais, 17 Taças de Portugal, 9 Supertaças, 4 Taças da Liga e 1 Taça Império.”

Wikisporting.com

É esta a realidade, e é esta realidade que deveria ser aplicada a todos os clubes. E é esta a luta que deveria ser travada. Esta e outras que vão ficando perdidas nos subterrâneos da memória e que se arrestam com as vigarices dos chicos espertos, que nos anos mais recentes têm dominado o nosso futebol.

O que vejo sobre isso é uma apatia sem limites, entre os sportinguistas. Como tal, não me considero nem mais nem menos que qualquer outro, seja ele sportinguista ou não. Gente desonesta, corrupta existe entre os adeptos de todos os clubes, mas ser sportinguista devia implicar, fazer um esforço de racionalidade para separar as águas e guardar energias para as lutas realmente importantes.

Ser sportinguista não é roubar, porque outros roubam, nem é distorcer porque outros distorcem. Ser sportinguista é discutir, serenamente, sem facciosismos. Se nalguma coisa somos diferentes, que seja nisso.

NOTA: O parecer do Sporting CP relativo à questão dos títulos foi admitido à votação na assembleia geral da FPF, que terá lugar no próximo dia 29 de Junho. O documento não fazia parte da Ordem de Trabalhos mas foi incluído a pedido de Francisco Salgado Zenha e Miguel Nogueira Leite, delegados da AG da FPF e elementos do Conselho Directivo do Sporting. O parecer leonino é subscrito por Diogo Ramada Curto e Bernardo Pinto da Cruz.

À margem

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publicado às 04:33

Religião, futebol, e política

Naçao Valente, em 08.06.22

O futebol é para os adeptos como uma religião. Não se discute na sua essência, não se contesta na sua utilidade. Aceita-se e segue-se. Como a religião, serve de refúgio a medos e frustrações. E tem, nesse aspecto, a sua função salvadora das agruras do dia-a-dia. Daí que exerça a sua influência no mundo da irracionalidade.

Como a religião tem os seus dogmas, os seus ritos, os seus cânticos, os seus santos e os seus demónios, os seus mártires. Para o adepto mais radical ,o clube que apoia é sagrado. As religiões, historicamente, têm estado na origem de grandes conflitos. O futebol dos tempos contemporâneos, e numa sociedade mais ateísta, assume esse papel.

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Num campo de futebol, o histerismo atinge o seu zénite. O espectáculo vive-se no “altar” do jogo, e nas bancadas, nas hossanas, expressas na comunhão do golo. Mas por detrás das aparências, e como a religião, é hoje um negócio muito grande. O “clero” que o domina movimenta milhões, os fiéis, directa e indirectamente, pagam.

O poder político, supostamente anti-clerical, venera o futebol. Reconhece-lhe o poder que exerce sobre as mentalidades e os comportamentos, e concede-lhe um lugar especial na estrutura do poder. Nesse sentido reconhece-lhe a sua própria hierarquia, os seus órgãos independentes, as suas leis “privadas”, a sua autonomia, que apresenta semelhanças com o feudalismo.

Teoricamente o poder político tem competências para intervir no mundo do futebol, mas na realidade não as exerce. Conhece o poder dos clubes, escudado em milhões de fiéis, que são, ao mesmo tempo eleitores. Nos regimes democráticos, os políticos sabem que o seu poder está dependente do voto, e que este pode ser influenciado por interesses clubísticos. Daí que procurem gerir com pinças, tudo o que se relaciona com futebol. Deste modo, esconde-se atrás da autonomia do desporto –rei, para não agir, ou pior, quando age, é para apoiar o sistema, como se viu na atitude do Secretário de Estado do Desporto, que merece ser designado como “persona non grata”.

Se vivêssemos num mundo perfeito, até poderia ser positiva a autonomia no desporto. A verdade é que vivemos num “mundo cão” onde impera o chico-espertismo. Assim sendo, é este que domina os órgãos do mundo da bola, estabelecendo as regras que lhes permitem governar a seu bel-prazer. 

Podem novos profetas pregar contra a situação. De imediato são acusados de hereges, e ficam a pregar no deserto. Os fiéis, mesmo quando prejudicados, acomodam-se à situação. Vomitam impropérios inconsequentes, ou aceitam-na resignados e passivos. Por isso não admira que apitos de todas as cores, tenham acontecido, e continuem a acontecer. Por isso não admira nada que os “papas” continuem a pavonear-se, alegremente, nas suas vestes douradas.

Para quando uma indignação a sério?  Para quando o fim da apatia?  O mundo feudal do futebol, necessita de uma revolução.

À margem

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publicado às 03:03

Do crime sem castigo à paz podre

Naçao Valente, em 04.06.22

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Na sua habitual participação semanal no programa de debate do CM, a  sportinguista Rita Garcia Pereira puxou dos seus galões de jurista, e explicou com rigor o que aconteceu em relação às escutas do apito dourado.

                "As escutas foram determinadas pelo Ministério Público mas não foram validadas pelo juiz. O processo cai por causa das escutas e, além das escutas, a grande testemunha do Ministério Público era uma senhora que o senhor Pinto da Costa conhecia bem e de perto mas cuja idoneidade não era propriamente a melhor. E foi assim que o processo caiu", afirmou na CMTV.

Quem tem seguido os debates sobre a acusação de corruptor activo, por Varandas,  a Pinto da Costa, através da comunicação social, depara-se com a seguinte situação: a maioria dos comentadores, cartilheiros ou jornaleiros, que vivem à conta do futebol, consideram as declarações de Frederico Varandas despropositadas e fautoras de guerrilhas que deveriam ser evitadas. Os que vão mais longe, acusam Varandas de promotor de violência. Mas será que o que presidente leonino afirmou é uma falsidade? Diz mais RGP.

            "Estive a ouvir coisas porque recordar é viver. Estive a ouvir escutas que são surreais e não são só surreais porque metem meninas. Essa nem é a parte mais surreal. Há outras designadamente pagamentos a árbitros e um dos árbitros a dizer isso. São bem mais surreais. Isto num país a sério o FC Porto não tinha ficado no campeonato".

O que esta afirmação baseada em factos significa, é que o crime existiu e ficou sem castigo. E significa também que o corruptor activo exerceu influência nos meios judiciais, para que interviessem no sentido de alterar o curso legítimo da justiça. O que na minha opinião, que não sou jurista, implica crime de obstrução à justiça por responsáveis da mesma. Mais crimes sem castigo. E Rita conclui:

"O que é que Frederico Varandas disse que não esteja nas escutas? Aquilo não foi dito? Aquilo não aconteceu? Não se pagaram aquelas viagens? Não se levaram aquelas meninas? Nada disto aconteceu? Pinto da Costa não foi passear até à Galiza? É que eu lembro-me perfeitamente de tudo isso. Não estava lá? Não voltou escoltado por uma espécie de guarda de honra? Não assistimos todos a isto? Eu assisti".

Todos nós que estamos de boa fé, independentemente de simpatias clubísticas, temos de admitir que houve indiscutível corrupção e que não foi castigada. E também sabemos que juridicamente este é um processo encerrado. No entanto, isso não invalida que Varandas, enquanto presidente de um clube lesado, não o relembre, e que nós cidadãos não nos indignemos. Esquecer as injustiças dá azo a mais injustiças. O que traz esta discussão ao presente, pergunta  toda a corja?

Ao contrário dos 'opinion makers', notórios defensores hipócritas de uma paz podre no nosso futebol, ainda bem que o presidente Varandas fez renascer o assunto. Pode e deve ser mais um passo no caminho da vital moralização do nosso desporto.

Como na martirizada Ucrânia, não é entregando o território a Putin sem defesa, que se consegue a paz e a justiça, como até defendem alguns. E não nos podemos esquecer que o clube das Antas, com novos processos, continua a actuar à margem da verdade desportiva. Não é por se esconder o lixo que este deixa de existir, hoje e sempre. Não queremos a paz podre. Queremos lutar por um futebol digno. Não temos medo!

NOTA ESPECIAL

E como a nossa vida é feita de pequenos nadas, como diz o poeta, aproveito a boleia para divulgar a minha contribuição para a poesia. Indignações... livro e e-book editado por Poesiafaclube, com página no Facebook. No entanto, para algum eventual interessado, tenho alguns exemplares que posso enviar com assinatura, a um preço especial (10 euros) para  frequentadores do blog. Contacto por Messenger, José Mateus Gonçalves. Obrigado.

publicado às 03:03

Saber ganhar e saber perder

Naçao Valente, em 18.05.22

"Fiz aquilo que tinha de fazer como treinador da instituição que sou, dei os parabéns ao campeão, coisa que não aconteceu em relação a nós”.

                               Rúben Amorim

O clube das Antas tem uma boa equipa de futebol profissional, temos de o admitir para sermos justos. Mas para além disso, todos sabemos que esse clube, para ganhar, não hesita em usar métodos que saem do âmbito da verdade desportiva, assentes no princípio do “vale tudo”, nas palavras de um antigo dirigente.

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Fazer 91 pontos na I Liga, batendo um recorde, não é tarefa fácil. Atrevo-me até a afirmar que é possível com a utilização da norma do “vale tudo”. Explicitando, essa norma inclui ganhar sempre. Significa, do ponto de vista estratégico, conseguir “inclinar o campo” a seu favor, através do controle de arbitragens, ou quando isso não acontece, usar estratagemas para as enganar, por exemplo, com os habituais “mergulhos”. É verdade que acontecem em todas as equipas, mas creio que no FC das Antas fazem parte da metodologia do treino.

Na opinião de Amorim, citada no início, demonstra-se outra característica da equipa das Antas, as atitudes ditatoriais, expressas na arrogância que demonstram, sobretudo quando perdem. Todos queremos ganhar sempre, com a ressalva que ganhar e perder faz parte do desporto. Mas essa faceta não é considerada pelo Antas, pois quando perde não sabe reconhecer a derrota e a maior valia do adversário, o que fica bem expresso na afirmação citada de Rúben Amorim.

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Esta atitude, já cimentada ao longo de várias décadas de “vale tudo”, está cada vez mais desmascarada na opinião pública, mau grado a cobertura que tem na comunicação social, que faz vista grossa, às vigarices do corruptor, ou o aplaude como um grande dirigente. Isto é possível num país de brandos costumes, onde as altas estruturas desportivas e judiciais se foram acomodando a esta realidade, e onde o poder político, de qualquer matiz, se acobarda perante o poder do futebol, enquanto controlador de consciências.

Em conclusão, saber ganhar e saber perder está na real essência do desporto. E quem não segue este princípio não o valoriza, apenas o descredibiliza, com o seu princípio do “vale tudo”.

Até quando?

publicado às 04:04

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