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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Um breve excerto da crónica semanal de Rui Santos no jornal Record, em que comenta, principalmente, a Covid-19, e, por tabela, o futebol português.
"Na segunda-feira, o primeiro-ministro António Costa, em entrevista à SIC, questionado sobre o impacto do coronavírus no futebol, afirmou que o futebol se trata de "um mundo à parte" e que neste momento não é uma prioridade socialmente aceitável, considerando as prioridades definidas pelo Estado.
O presidente da Liga, Pedro Proença, foi muito lesto a responder e disse que as palavras de António Costa foram ‘inapropriadas’, exigindo… "respeito".
Percebe-se bem que, do alto da sua condição formal de ‘presidente dos clubes’, cujo poder é infinitamente mais pequeno do que aquele que a soma dos clubes profissionais poderia sugerir ou mesmo recomendar, Pedro Proença quisesse defender a(s) sua(s) dama(s).
Fê-lo no momento errado.
António Costa tem razão: em termos de apoios e ajudas, o futebol não faz parte das prioridades e é mesmo ‘um mundo à parte’. É um ‘mundo à parte’, esclareça-se, porque os Estados assim quiseram, e achava eu — até há uma década atrás — porque os Clubes também queriam assim. Acontece que os Clubes e os seus dirigentes há muito que vêm pedindo a intervenção do Estado, pelo que são os Governos que ainda não se acostumaram à ideia de que a sua demissão, neste domínio, é apenas mero comodismo.
Temos um longo caminho a percorrer neste ajustamento entre as ‘leis do futebol’ e as leis do(s) país(es), mas esta demanda de Proença segundo a qual "o futebol exige respeito" é apenas uma reacção (pseudo) corporativa. Por uma razão muito simples: o futebol para exigir respeito é preciso saber dar-se ao respeito. E este tempo de restrições pode ser uma excelente oportunidade para esse efeito.
Ninguém visa negligenciar a importância do futebol nas nossas vidas. Mas, em Portugal, o futebol tem uma componente tóxica mortífera, equivalendo a um vírus letal. Temos todos de fazer um esforço colectivo para mudar comportamentos, não deixar que os dirigentes acentuem a notória clubite, a divisão geográfica e territorial, a utilização das claques como exércitos contra a paz e a falta de transparência.
Temos, primeiro e sobretudo, de vencer o Covid-19, mas, a seguir, temos de tratar dos vírus que infectam o futebol".
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