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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Contrário ao que era a minha intenção, acabei por não assistir ao programa "Hora do Presidente", na Sporting TV, nesta quarta-feira, onde Bruno de Carvalho deu algumas explicações sobre o momento do Clube.
Arrisco a adiantar um breve comentário baseado em tudo aquilo que foi divulgado pela comunicação social e espero que as diversas reportagens que li correspondam às declarações do presidente. Para o efeito, limito-me a transcrever as partes do diálogo que mais me impressionaram, ficando o leitor livre de adicionar o que entender útil para permitir total compreensão do que foi dito no programa.
Começo por sublinhar o que me parece mais óbvio, ou seja, que humildade não faz parte do "make-up" de Bruno de Carvalho, pelo contrário. Não se retracta, minimamente, nem reconhece que possa ter sido infeliz com a sua notória missiva no Facebook:
"O Facebook é uma ferramenta oficial do clube. Como é lógico, se motivamos os sportinguistas para que apoiem a equipa, temos de ter a coragem e a normalidade de dizer que aquilo não é o que queremos."
"As pessoas vão ter de se habituar. Este tema só o foi porque das notícias que saíram nenhuma tem veracidade."
"Houve muito pouca gente que soube ler o que escrevi. O que escrevi, até porque sou frontal, foi que naquele jogo de Guimarães não fomos dignos."
"A mensagem era dirigida aos adeptos e temos de os respeitar porque o jogo não foi à porta fechada. (...) Tudo o resto, no que parece que há uma anormalidade dentro do Sporting, não passa de uma paranóia colectiva. Se há coisa que sou é a antítese do populista. Foi feito um bicho de sete cabeças."
Bem... recusa compreender ou simplesmente não tem em si a hombridade de admitir que errou com esta sua iniciativa. É por de mais evidente que a mensagem não foi somente dirigida aos adeptos, tanto ou até muito mais tinha os jogadores como alvo fulcral. Ofende ao afirmar que só muitos poucos souberam ler o que escreveu e a parte que refere a si próprio como a antítese do populista é tão irrisória, que não merece mais comentário.
A abordagem às declarações dos jogadores:
"Não houve entre presidente e jogadores nada que não seja o normal: há um grau de exigência máxima. Percebo exactamente o que os jogadores quiseram dizer, não vejo qualquer ataque ao presidente. Processos aos jogadores ? É uma situação irreal para perpetuar algo que não existiu. Mas alguém acredita que um jogador do Sporting ficaria amuado ?
Já nos pronunciámos sobre esta temática e damos o benefício da dúvida ao presidente. Não vale a pena comentário adicional neste sentido. No entanto, sobre os sentimentos dos jogadores, Bruno de Carvalho nega o que é por de mais lógico, ou seja, não cabe na cabeça de ninguém que os jogadores tenham apreciado a "chicotada" pública. São profissionais e têm de aceitar, mas isso não significa que não tivessem reagido, pela negativa, às palavras do presidente, que, havendo bom senso, deviam ter sido comunicadas internamente.
Sobre o alegado desinvestimento na formação:
"Este sector teve uma das reduções de custos mais pequenas. Este foi outro dos mitos urbanos. O desinvestimento esteve na equipa de futebol profissional e nas "gorduras", ou seja, saíram quase 200 pessoas do clube. É falso que tivesse havido um desinvestimento que tivesse implicação na qualidade. Houve jogadores com os quais não renovámos e foram para os rivais, mas essa foi uma aposta nossa."
"Perdemos tempo no recrutamento, estamos a tentar recuperá-lo, pois fomos buscar jogadores onde não tínhamos soluções internamente, na nossa própria formação."
"Quando cheguei, as pessoas do recrutamento não tinham salários. Tratava-se o Sporting como um cachorrinho: «O Sporting é tão engraçado mas não sabe formar jogadores...» Agora não é assim.
Tudo quanto diz respeito à formação requer um estudo intenso que eu há muito desejo levar a cabo e para o qual ainda não encontrei a disponibilidade e os melhores meios de realização. É imprescindível conhecer a orgânica total da estrutura da Academia e, por inerência, da formação em si.
Acho, no entanto, irrealista por parte de Bruno de Carvalho não associar a menor capacidade de investimento do Sporting com a qualidade dos activos, estejam estes na Academia, equipa B ou na principal. Já a parte que refere aos jogadores recrutados para preencher lacunas da formação, especialmente ao nível dos juniores e da equipa B, é muito discutível e teríamos de analisar cada jogador individualmente.
A última afirmação que transcrevi, neste contexto, deixou-me perplexo, para ser simpático. Será que só agora é que se vem a saber que o Sporting "não sabe" formar jogadores ?... Quanto às pessoas do recrutamento não serem remuneradas, pelo menos de modo significativo, não é segredo algum. Aurélio Pereira já explicou, em detalhe, como a sua vasta rede de recrutas espalhadas pelo País funciona, e a remuneração era mínima, pouco mais do que as despesas assumidas. Desconheço o que está agora implementado, para levar Bruno de Carvalho a fazer esta afirmação.
Resumindo e concluindo, sobre a formação, pelos vistos, na óptica do presidente, está tudo no bom caminho e não há problemas de maior importância. Ainda bem que assim é... ou será mesmo ?
Por fim, sobre o que constou sobre as medidas alegadamente tomadas por Marco da Silva para "blindar" o balneário:
"Passava pela cabeça de alguém que a porta do balneário fosse fechada a algum presidente ?".
Nunca esteve no futebol, não se identifica com o futebol à raiz, não compreende e o seu ego impede a necessária sensatez. Dá para questionar a natureza da sua intervenção no balneário e o impacte desta tanto na equipa técnica como nos jogadores.
Admito um outro tipo de reacção pelos sportinguistas que assistiram ao programa em directo - que tem sempre um outro impacte - mas pelo que foi reportado pela comunicação social, fiquei a saber o mesmo e a minhas impressões sobre as temáticas abordadas mantêm-se intactas. Esperava explicações em muito mais detalhe por parte do presidente. A abordagem, pela enésima vez, à nunca provada fraude do acto eleitoral de 2011; lamentáveis ameaças veladas a Dias da Cunha com a Auditoria de Gestão e, por fim, uma frase que ficará célebre nos anais históricos do Sporting:
"Shikabala é uma situação normalíssima de gestão desportiva. Está desaparecido mas não é o Rambo".
Além de passar muito tempo a ver os seus filmes, e pior ainda, a acreditar neles, dá fortes indicações de se situar em um mundo que não é o dos comuns, mas sim dos Deuses. Talvez por isso, tenha por hábito referir-se a si próprio na terceira pessoa e, no Sporting, como o Ser Supremo.
Diz o velho ditado, "quanto mais alto se sobe maior é a queda". Para o bem do Sporting espero estar errado, mas não me consigo distanciar da ideia que Bruno de Carvalho é um desastre à espera de acontecer. Estas últimas semanas são apenas uma minúscula amostra do que poderá surgir no futuro, caso os resultados desportivos não se manifestem. Deles, depende a sua longevidade e a turbulência do percurso.
*** Para quem não teve oportunidade de assistir, o programa está aqui disponível:
Agradecemos a referência ao nosso leitor Mike.
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