De Marcos Cruz a 03.01.2021 às 03:30
Este jogo foi uma sanduíche de Braga, ou seja, o Sporting foi o pão (início e fim) e o Braga o recheio. Duas equipas fortes, com aspectos em que se assemelham, mas um Braga mais objectivo na maior parte do jogo, embora o Sporting tenha marcado por duas vezes. A nossa equipa ganhou, de facto, na eficácia. E para mim isso conta muito. O Adán esteve em destaque, sem dúvida, aquela defesa à queima-roupa é assombrosa (o lance era irregular, de qualquer maneira), mas com os pés não me deixa tranquilo. Tem sempre a tendência de chutar a meia altura, tenso, quando podia usar também o balão, sobretudo em situações mais apertadas, e corre mal demasiadas vezes. Felizmente não sofremos golos com isso. O Porro é a ilusão espanhola em forma de jogador, ele empolga-nos pela atitude, tem muito talento e promete crescer cada vez mais, porque se entrega como poucos, sente a camisola, vive apaixonadamente o futebol, não é conflituoso ou descontrolado (ao contrário do que era, do outro lado do campo, o Acuña), parece-me ser um inspirador do balneário e, pelo que tem evoluído, deve trabalhar a sério. O Coates está, na minha opinião, a fazer a melhor época da carreira. Nada exuberante, muito assertivo, seguro, imponente. Uma voz de comando. O Feddal tem-me surpreendido, confesso: via-o como um jogador banal mas cresceu muito e ontem achei que foi dos melhores, quer a limpar jogo quer no passe curto ou a rasgar, e ainda nas alturas. Gostei mesmo. O Neto não borrou a pintura, esteve certinho, e isso, vindo dele, já não é de somenos. O Nuno Mendes, embora pouco inspirado, já deu sinais de querer voltar à forma que nos fez admirá-lo. Talvez tenha ouvido o Bruno Fernandes a dizer-lhe que a lesão não podia ser desculpa e que tinha de fazer mais. O Palhinha mostrou-se à altura da sua qualidade, depois de uma partida muitos furos abaixo contra a Belenenses SAD. O João Mário é o nosso maestro, o homem que pauta o jogo a um nível de excelência, sempre com aquele requinte que o distingue, mas também indo à luta do corpo a corpo, onde ganhou muitos lances. Está de volta como futebolista de elite e não se esconde na circulação de bola, arrisca em passes de ruptura e dá verticalidade ao jogo, vê-se que recuperou a fome de conquistas e essa, só de si, já é uma grande conquista. O Pote não anda tão envolvido, ou então inspirado, mas não falhou na hora certa e todos confiamos num regresso rápido à preponderância que tinha. O Nuno Santos ainda me deixa algumas reservas. É hábil e rápido, tem nervo e objectividade, mas tarda em ser mais constante, algo que é muito necessário em equipas grandes. Em abono dele falam os números, tanto de golos como de assistências. A ver vamos. O TT esfarrapa-se, não há nada a apontar-lhe, mesmo não tendo feito, individualmente, um jogo brilhante. Mas procura a profundidade, dá linhas de passe, pressiona na saída de bola, lê e executa rápido, não pára um minuto e, dispondo de oportunidades, já sabemos o que faz. É um projecto de craque. O Matheus está a crescer na sombra do Palhinha e mostra que não se encolhe, que quer o lugar, mais tarde ou mais cedo. Tem tudo, física e tecnicamente, para, com a progressiva aprendizagem táctica, ser um dos donos do nosso meio campo no futuro. O Tabata ainda se encontra atrasado relativamente aos outros, como é natural. Vai entrando, vai-se entrosando, desinibindo, e creio que será uma questão de tempo até podermos confiar plenamente nele. O Sporar foi a surpresa, entrou com vontade de se mostrar importante e acabou por ser decisivo. Muito bem a receber, a rodar e, para meu espanto, a ganhar metros com a bola nos pés. Hoje até me pareceu um jogador rápido. Processos simples, boa dinâmica e golpe de asa. Confiante, depois se ter visto posto em causa. E isso é um dado promissor.
Parabéns à equipa, que mais uma vez teve um técnico-adjunto com cara de pau e um principal com uma leveza e uma naturalidade extraordinárias, sempre simpático e inteligente. Talvez se complementem, já não digo nada.
O VAR foi mais do mesmo. Perdeu-se a vergonha na vassalagem aos donos disto tudo. Por muito que se apontem os erros semana a semana, por muito que alguns conhecedores do meio, como o Rui Santos, digam que o Sporting é uma vítima do sistema, a parcialidade continua.
Saudações leoninas a todos.